Sócrates lançou obra do Museu dos Coches, "sinal claro de investimento na Cultura"

Foto
O novo Muesu dos Coches deverá estar concluído no final de 2011 Carlos Lopes

Não se tratou exactamente do lançamento de uma pedra, mas antes do revelar de um tijolo - mas isso não impediu que a cerimónia anunciada como o lançamento da primeira pedra do novo Museu dos Coches, ontem, na Avenida da Índia, em Belém, fosse transformada pelo Governo num acontecimento no qual o primeiro-ministro, José Sócrates, fez questão de estar presente.

Depois de um atraso de vários meses - devido à dificuldade na transferência de serviços ligados ao ex-Instituto Português de Arqueologia que funcionavam no local, as antigas Oficinas Gerais de Material do Exército (OGME) - o projecto do arquitecto brasileiro Paulo Mendes da Rocha deverá finalmente arrancar.

Quando a obra estiver concluída, o que, segundo a directora do Museu dos Coches, Silvana Bessone, deverá acontecer no final de 2011, o museu mais visitado do país passará a ter dois pólos em Belém: nas instalações históricas, o antigo picadeiro, ficará um núcleo de oito coches do século XVIII; no novo edifício projectado por Mendes da Rocha ficarão perto de 80 coches. Em Vila Viçosa continuará a existir um terceiro pólo, com 44 veículos "mais ligados ao meio rural".

O programa museológico prevê ainda que o novo edifício inclua oficinas para a conservação e restauro de veículos hipomóveis. A ideia, explicou a directora, é que o museu seja "gerador de desenvolvimento económico", e possa assegurar a manutenção tanto dos próprios coches como de veículos de outros países. "Tendo nós a colecção de coches mais importante do mundo, somos muitas vezes contactados para saber se podemos fazer restauro, mas até agora nunca tivemos oficinas". Para os visitantes, haverá dois percursos de visita de diferente duração "para melhor responder às necessidades manifestadas pelos operadores turísticos".

Tirando estes esclarecimentos, a cerimónia de ontem num dos vários edifícios ainda em pé nas antigas OGME, não trouxe mais novidades sobre o projecto arquitectónico ou o conteúdo do novo museu. Coincidindo com os 100 dias do Governo Sócrates, serviu sobretudo para lançar uma obra que, disse o primeiro-ministro, é um "sinal claro de investimento numa área cultural e museológica", um "investimento na arquitectura" ("sempre tive a mania de que percebia alguma coisa de arquitectura", confessou) e um sinal de que "Lisboa não desiste da sua ambição cosmopolita e universal".

Mendes da Rocha, também presente, reforçou a ideia de que o museu será elevado do chão, criando por baixo um espaço de passagem, para "não ser um transtorno no passeio a pé". António Costa, presidente da Câmara Municipal de Lisboa - que se tinha oposto a um silo automóvel junto ao rio, previsto no projecto inicial e do qual Mendes da Rocha acabou por abdicar - não poupou elogios ao arquitecto brasileiro. E sublinhou que este projecto faz parte do objectivo de ter obras de arquitectos dos cinco continentes na zona ribeirinha. "Falta-nos a Oceânia", disse. "Arranjaremos um projecto para convidar um arquitecto da Oceânia", prometeu-lhe Sócrates de seguida.

A ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, e o secretário de Estado do Turismo, Bernardo Trindade, aproveitaram a ocasião para sublinhar "a lógica de cumplicidade" entre o Turismo e a Cultura - uma lógica que passa por um forte apoio financeiro do Turismo a projectos culturais, entre os quais o Museu dos Coches (financiado com 31 milhões de euros provenientes da concessão do Casino). "A Cultura deve muito ao Turismo", reconheceu Canavilhas. "Mas é um empréstimo", acrescentou, dando a entender que este é um investimento que trará também benefícios ao sector turístico.

Sugerir correcção
Comentar