A noite do chinês Zhang só não teve final feliz para o Mafra

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O Sporting venceu, mas não convenceu Nuno Ferreira Santos

Quando Liedson se lesionou, houve um sismo de grau elevado em Alvalade e os alarmes soaram. O presidente leonino, José Eduardo Bettencourt, não teve outro remédio se não abrir os cordões à bolsa e ir ao mercado — num pulo estava em Madrid a assinar a segunda mais cara transferência do Sporting: Sinama-Pongolle custava seis milhões de euros e, no final do ano passado, já tinha feito as malas para Lisboa. Em Mafra, a história é um pouco diferente. Zhang chegou ao clube da II Divisão B através de um empresário amigo do director-desportivo, Joaquim Duarte, que colocou o atleta a viver no centro de estágio do clube. O francês sportinguista nem sequer foi convocado, enquanto o chinês, pré-convocado para a selecção olímpica da China, jogou e marcou três golos numa noite que jamais esquecerá.

O golo de Zhang fez pouca mossa. Empatou o jogo, quando Matías já tinha colocado o Sporting na frente do marcador através de um penálti, mas a festa foi forte. A equipa de verde e amarelo estoirou todos os foguetes, até nas bancadas. Apesar de ter apenas 800 sócios, estavam o dobro dos adeptos no estádio. Depois foi tempo de apanhar as canas, já que Carriço e Saleiro estragaram o convívio com um golo cada um.

Mafra não fica longe de Alvalade. Pouco mais de 50km. E para alguns jogadores e adeptos mafrenses, visitar um estádio do Euro era uma novidade até esta noite. E foi contra esta vontade imensa que a equipa de Carvalhal lutou, pouco mais que um bando de homens cheios de espertina por jogar contra o Sporting.

Os “leões” são reis na Taça nos anos mais recentes e pouco dados a percalços na prova. Aliás, o último a fazê-lo de um escalão inferior foi o V. Setúbal, em 2003. Na altura, era treinado por… Carlos Carvalhal. Por isto, o aviso estava dado. A equipa de primeira construída por Carvalhal não podia dar facilidades frente à formação de Filipe Moreira, 11.ª da Zona Centro.

Kifuta ainda marcou outro golo para o Mafra. Patrício defendeu para a frente e o avançado foi lesto. Aliás, lesto de mais, já que estava fora-de-jogo. O árbitro anulou e nas bancadas afectas aos mafrenses passou uma onda de tristeza. Foi um parêntesis. O Sporting já estava na frente graças ao golo de Carriço (cabeceamento após canto).

Carvalhal sempre teve uma ligação umbilical ao Sporting, mesmo antes de tomar o lugar de Paulo Bento. Além de ter eliminado os “leões” em 2003 da prova, encontrou os “verde-e-brancos” na final do Jamor em 2002, tendo perdido para um golo de Jardel. A vingança chegou na Taça da Liga há dois anos, quando saiu vencedor e arrebatou o troféu nos penáltis. Agora, está no mesmo lado do campo e sabe como as coisas funcionam dos dois lados. Teceu uma teia sobre o adversário mais fraco e com 4-1 no marcador (Saleiro e Djaló marcaram em dois bons apontamentos) começou a fazer experiências e terminou com uma vitória pela margem mínima.

Foi o sexto triunfo consecutivo, a melhor série da temporada, contando com jogos nas várias competições. O “leão” está a recuperar da crise aos poucos antes do próximo compromisso, que é a visita à Trofa para a Taça da Liga, antes de ir a Braga visitar o líder do campeonato. No Mafra, existirá sempre a história de Zhang para contar. Três golos, um deles com contornos circenses depois do falhanço de Rui Patrício. Só que não valeram nada.

Notícia actualizada às 23h22
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