Com a excepção das Sonatas e Partitas de J. S. Bach, os registos discográficos dedicados ao violino solo, sem nenhum outro suporte instrumental, são raros e constituem sempre desafios ambiciosos. Mas o violinista Bruno Monteiro não se deixou intimidar e envereda neste seu quarto CD pela aventura do solo absoluto com desenvoltura. O programa foi escolhido em função da sua personalidade, aliando "o lado virtuoso do instrumento ao lado intelectual de compositores de referência". Inclui a Partita nº 2, de J. S. Bach; a Sonata op. 115, de Prokofiev, e obras de dois violinistas virtuosos que se admiravam mutuamente: o "Recitativo e Scherzo-Capricho" op. 6, de Fritz Kreisler (peça dedicada a Ysaÿe) e a Sonata nº 2, op. 27 nº2, "Obsession", de Eugene Ysaÿe (escrita para Jacques Thibaud). Esta última peça é uma homenagem a Bach, citando literalmente várias passagens do grande compositor barroco, mas combinando-as com traços da linguagem romântica.
Este compromisso estilístico, aliado à escrita de alguém que conhecia a fundo o instrumento, parece adequar-se muito bem ao perfil musical de Bruno Monteiro que faz realçar de forma eloquente os diversos universos estéticos e expressivos da obra.
Logo desde o início da gravação, mostra uma sonoridade bonita e brilhante. Sendo um intérprete mais próximo da tradição romântica, vê-se que procurou atingir sobriedade e transparência na Partita nº2, BWV 1004, de Bach. Se há pormenores pontuais de estilo (no recorte de fraseados, nas acentuações métricas ou na ênfase das notas finais dos andamentos através do "vibrato") que podem ser discutíveis para os adeptos das interpretações historicamente informadas, mas resultam também de uma questão de gosto legítima, o resultado que Bruno Monteiro consegue na monumental "Ciaccona" é admirável. Nesta página repleta de dificuldades, verdadeiro "tour de force" para todos os intérpretes, mostra um grande domínio técnico, aguda inteligência musical, bom sentido da polifonia e dos múltiplos contrastes desta música fascinante. Na Sonata op. 115, de Prokofiev, e no "Recitativo e Scherzo-Capricho" op. 6, de Kreisler, Bruno Monteiro reafirma qualidades como o lirismo, o vigor rítmico, agilidade técnica e um forte envolvimento emocional.