Putin diz que escudo norte-americano é o “obstáculo” a novo acordo bilateral de redução de armamento
As duas grandes potências nucleares mantêm há várias semanas que estão muito próximas de conseguir acordar os termos finais do novo tratado para que seja assinado pelos chefes de Estado, Barack Obama e Dmitri Medvedev. Ambos tinham instado em Abril passado os seus negociadores a apresentarem um documento para assinar antes de 5 de Dezembro, a data em que expirou o Start-1, mas o prazo passou e nada de substancial foi conseguido, o que conduziu à extensão de vigência do histórico acordo.
Diplomatas de ambos os lados iam sugerindo então que o impasse em que as conversações mergulharam se devia à definição dos mecanismos de verificação de redução dos arsenais, que os russos pretendiam simplificados e os norte-americanos insistiam que fossem determinados com precisão e em detalhe.
Ambos os lados passaram então a falar numa nova data limite até ao final do ano, não deixando de reiterar continuamente as promessas de que o sucessor do Start-1 – assinado a 31 de Julho de 1991 entre o então Presidente norte-americano George Bush pai e o último Presidente da União Soviética, Mikhail Gorbachov – produziria reduções de armamento estratégico "radicais". Sobre a mesa está um limite máximo de ogivas operacionais entre as 1.500 e 1.675, o que representa um corte de um terço nas actuais existências.
Mais armas russas para “repor a paridade”Putin veio agora apontar qual é o “principal obstáculo”, sustentando que os planos dos Estados Unidos de estender para a Europa (para a Polónia e República Checa no plano original, ainda de George W. Bush, filho) parte do seu escudo de defesa antimíssil perturbam o equilíbrio de poderes saído da guerra fria, o que “obriga a Rússia a desenvolver novas armas ofensivas” para que seja “reposta a paridade estratégica”.
Estas declarações vindas do homem que é ainda reconhecido consensualmente como o mais poderoso e determinante político russo – que cedeu o Kremlin ao pupilo Medvedev no ano passado, estando constitucionalmente impedido de se candidatar a um terceiro mandato presidencial consecutivo – espelham a verdadeira seriedade dos problemas que lançaram as negociações do novo tratado num impasse, notam os analistas. E também o estado de inquietação que permanece em Moscovo, apesar de Obama ter deixado claro, ainda em Setembro, que Washington está pronta a abandonar os planos do seu antecessor na Casa Branca no que toca à expansão europeia do escudo antimíssil, que para a Rússia constitui uma “séria ameaça” à sua segurança nacional.
O Presidente norte-americano aposta muito da sua política externa num “relançar do zero” das relações dos Estados Unidos com a Rússia, que muito azedaram nos últimos anos e sobretudo depois da guerra da Geórgia, no Verão de 2008.
Obama sinalizou, aliás, uma maior flexibilidade às preocupações russas, admitindo substituir os mísseis de longo alcance na Europa Central por engenhos de curto e médio alcance em outras posições, marítimas e terrestres, ainda assim capazes de dar resposta a eventuais ameaças nucleares dos “párias” Irão e Coreia do Norte. Ao mesmo tempo deixava claro que quer contar com o apoio de Moscovo nas suas duas grandes prioridades de política externa: a guerra no Afeganistão e a contenção das ambições nucleares de Teerão.
“Se nós não estamos a desenvolver um escudo antimíssil há o claro risco de que os nossos parceiros, ao dotarem-se de um, se sintam totalmente seguros e assim possam fazer o que bem entenderem, perturbando o equilíbrio [de poderes]. E a agressividade aumentará imediatamente”, avaliou Putin, dando conta que é para “preservar o equilíbrio” que a Rússia “tem que desenvolver sistemas ofensivos de armamento”.
O primeiro-ministro russo referiu que as negociações para o sucessor do Start-1 estão a “correr numa direcção positiva em termos gerais”. Mas insistiu claramente que “as questões das armas ofensivas estão profundamente ligadas às da defesa antimíssil”, instando os Estados Unidos a fornecerem “mais informação” sobre o que quer Obama fazer com o escudo antimíssil.