Britânico condenado por tráfico de heroína foi executado na China por injecção letal
Primeiro europeu a ser executado da China em mais de meio século, Akmal Shaikh ainda no fim-de-semana se manifestava “esperançado” num recuo por parte das autoridades chinesas, informara na noite de ontem um dos seus familiares que o visitou na prisão. Mas, apesar dos apelos do Governo britânico, Pequim não cedeu, nem mesmo ao argumento de que este homem de negócios, divorciado, de 53 anos, sofria de desordem bipolar ou depressão maníaca.
A execução foi criticada “nos termos mais fortes” pelo primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, que, num comunicado divulgado esta manhã, se expressou “chocado” e “desapontado” e lamentou que os “pedidos persistentes de clemência não tenham sido satisfeitos” por parte da justiça e Governo chineses. “Inquieta-me em particular que não tenha sido feita nenhuma avaliação psiquiátrica [a Akmal Shaikh]”, sublinhou ainda o chefe do Executivo.
Esta veemente crítica de Londres – que os observadores prevêem possa crispar as relações diplomáticas entre os dois países – foi prontamente respondida com igual firmeza por Pequim, numa defesa aguerrida do seu sistema judicial. “Ninguém tem o direito de falar mal da soberania judicial da China. Expressamos o nosso forte desagrado e determinada oposição às injustificadas acusações britânicas. E instamos o Reino Unido a corrigir os seus erros e a evitar prejudicar as relações bilaterais”, fez saber em conferência de imprensa o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Jiang Yu.
O Supremo Tribunal chinês rejeitara os apelos diplomáticos e de familiares de Akmal Shaikh assim como o último recurso de que o réu dispunha, a 21 de Dezembro, considerando não existirem provas suficientes para substanciar a tese de incapacidade legal por doença mental. E o ministro dos Negócios Estrangeiros reiterou que foram dados “todos os direitos legais” ao cidadão britânico. A China é o país com o maior número de condenações à morte do mundo.
Akmal Shaikh foi detido em 2007 depois de passar um período errático na Polónia onde ficara obcecado com a ideia de se tornar numa estrela da música pop com uma canção que, acreditava, iria trazer a paz ao mundo – “Come Little Rabbit” (“Vem, pequeno coelho”, cuja gravação está disponível no YouTube), segundo foi revelado no site do grupo londrino de defesa dos direitos humanos Reprieve. Esta organização, assim como outros apoiantes de Shaikh, argumenta que o britânico foi enganado e levado a traficar heroína na China por um gangue que lhe prometera em troca abrir-lhe as portas para uma carreira internacional na música.
Este caso poderá facilmente azedar a opinião pública britânica contra a China e ao mesmo tempo intensificar o ressentimento entre os chineses devido ao que Pequim amiúde descreve como a “interferência” de países ocidentais nos assuntos internos do país – e em particular de Londres, que partilha uma história crispada com os chineses desde as Guerras do Ópio (1800).
As duas capitais trocaram palavras duras ainda muito recentemente a propósito dos resultados da Cimeira do Clima de Copenhaga, com o Reino Unido a acusar expressamente a China de ter boicotado um compromisso mais ambicioso no combate às alterações climáticas, nomeadamente na diminuição dos gases de efeito de estufa.