Portugal melhorou tratamento de notícias sobre minorias mas ainda tem caminho a percorrer
“Estamos muito melhor do ponto de vista das referências discriminatórias, mas há ainda um longo caminho a fazer no que se refere à representação destes grupos nos espaços de informação”, disse.
José Azeredo Lopes, que falava à Lusa durante o seminário sobre Imigração e diversidade étnica, linguística, religiosa e cultural, considera que é preciso agora apostar na representação equitativa e equilibrada destes grupos.
Neste seminário foi apresentado um estudo sobre “Emigração, diversidade étnica, linguística, religiosa e cultural na imprensa e na televisão em 2008”, que revelou melhorias mas também alguns casos de tratamento discriminatório das minorias.
“Em determinados acontecimentos que envolvem imigrantes e as designadas minorias, as peças jornalistas têm como temática o “crime” e “observa-se que tanto os jornalistas como os meios de comunicação social manifestam comportamentos que tendem a infringir alguns dispositivos presentes na Constituição Portuguesa, no Estatuto do Jornalista, na Lei de Imprensa e na Lei da Televisão”, lê-se no documento.
Em 2008, foram os casos “Quinta da Fonte” e “Assalto ao BES” que determinaram a maior cobertura jornalística da temática imigração e diversidade étnica, sendo o tema “crime” o mais associado aos imigrantes e às designadas minorias.
As condições de trabalho dos imigrantes e sobre as dificuldades que enfrentam no processo de inserção são abordados por poucas peças jornalísticas.
José Azeredo Lopes defende que há já uma grande evolução, mas falta agora o equilíbrio entre a visibilidade dada as questões negativas relativas a estas populações e os aspectos positivos.
“Não defendo uma visão muito doce ou sempre positivo de grupos minoritários, justificaria sim que a presença deles não se fizesse apenas pelas piores razoes”, disse.
O mesmo foi defendido no debate pelo padre Vaz Pinto, ex-Alto Comissário para a imigração e minorias étnicas e actual director da revista Brotéria.
Segundo o padre Vaz Pinto é necessário fugir à tentação de ocultar a realidade mostrando não só os acontecimentos imediatos que envolvem estas populações e que, por vezes, são negativos, mas também o que está por detrás deles”.
“O critério não é ocultar a verdade. Ao não ser falado acaba por provocar uma censura mais subtil e alargada. É mais perigosa uma meia verdade do que as mentiras inteiras”, disse, acrescentando que cabe aos jornalistas procurar a verdade dos acontecimentos.
Rui Marques, que também exerceu o cargo de Alto Comissário do ACIME defendeu, por seu turno, que os jornalistas deram um salto qualitativo nos últimos anos sendo agora necessário trabalhar ao nível das fontes de informação oficiais.
O estudo hoje apresentado indica também que, na generalidade das notícias, os jornalistas respeitam o artigo do Estatuto dos Jornalistas que preconiza, designadamente, o tratamento não discriminatório das pessoas.
Como exemplo deste procedimento, a análise refere as peças que têm como temáticas a vida quotidiana dos imigrantes, as suas dificuldades e processos de integração.
Destacadas são também as peças, na imprensa e na televisão, que abordam problemas comuns a portugueses, imigrantes e minorias nos percursos de migração.
“Nestas peças, os jornalistas tendem a apresentar diferentes perspectivas sobre um mesmo acontecimento, recorrendo a diversos tipos de fontes e ao contraditório”, lê-se no estudo.
O estudo destaca ainda que nem todos os imigrantes e minorias são objecto de cobertura noticiosa.
Os cidadãos brasileiros são os que recebem maior atenção e existe pouca informação sobre, por exemplo, os cidadãos indianos e paquistaneses, cujo número tm vindo a crescer nestes últimos anos.
A análise refere-se a 2008 e incidiu sobre a imprensa diária e semanal e sobre os três canais generalistas de televisão de sinal aberto.