Empresa adopta cão para descobrir carcaças de pássaros junto a parques eólicos
As aves mortas devido ao choque contra as pás dos geradores eram procuradas e recolhidas por pessoas para estudo das espécies, actividade dificultada pela vegetação, condições climatéricas e pelos próprios limites da capacidade humana.
Para contornar estas dificuldades, a empresa Bio 3 - que faz consultoria ambiental junto de mais de 30 parques eólicos - adoptou um "cão biólogo" para procurar os cadáveres das aves.
O primeiro canídeo chama-se "Balita", foi treinado pela Unidade Especial de Polícia da Polícia de Segurança Pública (PSP) e foi e hoje apresentado no Parque Natural da Serra de Aires e Candeeiros. A comissária Paula Monteiro classificou a parceria como uma "troca de experiências muito interessante".
A oficial argumentou que a PSP, no âmbito da "responsabilidade social", pretende desenvolver novos projectos, sendo este "um bom exemplo entre uma entidade privada e uma instituição pública".
A PSP "aceitou o desafio de treinar cães para este tipo de detecção porque é inovador" e a "polícia também desenvolveu novas técnicas de formação e de aperfeiçoamento" na área cinotécnica, concluiu a comissária.
O biólogo Hugo Costa defendeu que a utilização de cães na detecção de aves mortas vem "corrigir os valores" calculados, porque os cães têm "apresentado taxas de sucesso na busca de pássaros e morcegos mortos próximas dos 100 por cento, contra cerca de 10 por cento de aves encontradas por humanos".
A apresentação pública deste novo serviço da Bio 3 decorreu junto dos aero-geradores instalados no Alto da Serra, em Rio Maior. Perante os jornalistas, "Balita" encontrou todos os cadáveres de aves, apesar das temperaturas perto dos dois graus, visibilidade muito reduzida devido ao nevoeiro e chuva miudinha.
Foram espalhados vários pássaros, das cerca de 15 espécies que a "Balita" foi treinada para buscar, em redor do parque eólico. O animal corria em zig-zag até encontrar cada um dos cadáveres, depois parava e ladrava ao tratador.
O processo de treino da cadela foi progressivo, primeiro foi associado o cheiro de um morcego, o que produz maior odor, depois foram adicionados novos cheiros de pássaros, como o do falcão, andorinha, pombo, melro, pardal, entre outros, explicou Hugo Costa à Lusa.
O objectivo da empresa é fornecer dados sobre biodiversidade aos concessionários dos parques eólicos, "para serem adoptadas medidas de gestão" que permitam corrigir e beneficiar os espaços envolventes, explicou por sua vez o biólogo Miguel Mascaranhas.
No caso concreto do Parque Natural de Serra de Aires e Candeeiros, foram recolhidas cerca de 15 carcaças de falcões mortos, desde a entrada em funcionamento do parque eólico (mais de quatro anos), o que já levou aquela empresa a estudar novos métodos para afastar os pássaros das hélices dos geradores, como ultra-sons, radares ou avisos sonoros, disse.
Em Dezembro de 2008 estavam registados 1959 aero-geradores em Dezembro de 2008, pelo que a empresa defende que só com um estudo exaustivo e preciso sobre o número de espécies mortas devido a este tipo de produção eléctrica "se podem tomar medidas concretas para gerir os ecossistemas", concluiu aquele biólogo.