Viabilização da Aerosoles implica vaga de despedimentos que a futura gestão irá definir

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A Aerosoles tem actualmente 650 trabalhadores Nélson Garrido (arquivo)

Com a entrada do FRE - constituído pelos cinco maiores bancos portugueses -, o Estado irá alienar a sua participação no grupo económico, através das sociedades de capitais de risco, e a gestão passa assim a ser privada. O maior grupo de calçado nacional será dividido em duas áreas de negócio, como o PÚBLICO tinha adiantado - a industrial e a comercial -, com gestões completamente autónomas. Concluída a recuperação, a empresa será alienada pelo fundo a investidores que estejam interessados nessa compra.

A recuperação não garante, porém, a manutenção dos 650 postos de trabalhos. A nova administração, que deverá começar a trabalhar na próxima semana, decidirá o número de trabalhadores a dispensar. O Ministério da Economia garante que pretende manter "uma parte significativa dos postos de trabalho associados à actividade industrial", mas não adianta os números em causa.

Seja como for, os cerca de 500 operários da parte industrial da Investvar entram em lay-off na próxima semana, possivelmente até final de Janeiro do próximo ano. "É uma medida para que se possa reorganizar a produção porque, neste momento, a marca Move On não vai ser lançada para o mercado", adianta Fernanda Moreira, coordenadora do Sindicato do Calçado dos distritos de Aveiro e Coimbra, que ontem esteve reunida com o secretário de Estado adjunto da Indústria e do Desenvolvimento, Fernando Medina.

A Investvar não irá, portanto, produzir uma marca própria, como tinha sido anunciado, mas continuar a fabricar para os seus clientes. Ainda durante este mês, os salários em atraso - Novembro está por pagar - deverão ser regularizados, juntamente com o pagamento do subsídio de Natal. A estrutura sindical reúne-se hoje em plenário com os trabalhadores da Investvar em Castelo de Paiva e em Esmoriz.

"A decisão ideal passaria por garantir todos os postos de trabalho, mas isso não vai acontecer", refere Fernanda Moreira. Mesmo assim, a coordenadora do sindicato tem esperança de que os despedimentos não irão afectar "um número significativo de trabalhadores". O fecho de algumas fábricas do grupo também estará em cima da mesa.

Artur Duarte, fundador da Investvar e que acaba de colocar o lugar de vice-presidente à disposição, ficou satisfeito com a proposta do Governo, mas não comenta nenhuma medida em concreto. "Congratulo-me com o facto de se ter encontrado uma solução. Perante o panorama, foi a solução possível", disse ao PÚBLICO. "Independentemente de tudo, o objectivo principal era que a empresa se salvasse."

"Estão, neste momento, reunidas as condições fundamentais para termos uma empresa que seja sustentada e viável, actuando naquilo que sabe verdadeiramente fazer e fazia bem: uma empresa industrial na área do calçado", sublinhou à Lusa Fernando Medina, depois do encontro com o sindicato. O governante admitiu, no entanto, que a recuperação demorará alguns meses, devido à "situação muitíssimo complexa" em que se encontra. Medina revelou um novo dado: "a distribuição será feita através de canais ditos multimarcas e não através da manutenção de um canal próprio, autónomo, de distribuição".

A ausência de uma resposta por parte do Ministério da Economia, no final do mês passado, levou o presidente da Investvar, Pedro Ribeiro da Cunha, a pedir a demissão. O empresário remeteu para hoje uma eventual reacção às propostas.

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