Só dois por cento de vítimas de paragem cardio-respiratória chegam vivas ao hospital

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Há cerca de 15 pedidos de licença em avaliação para estes aparelhos serem instalados em aeroportos, centros comerciais e empresas Adriano Miranda

Das 1658 pessoas que entraram em paragem cardio-respiratória (com origem cardíaca provável) ao longo de dois anos apenas 40 (cerca de dois por cento) chegaram ao hospital com "sinais de vida", revelam dados do Registo Nacional de Paragem Cardio-Respiratória de 23 de Janeiro de 2007 a 22 Janeiro deste ano. Nestas situações haveria indicação para uso dos aparelhos de Desfibrilhação Automática Externa (DAE) que o Ministério da Saúde quer ver disseminados.

Há cerca de 15 pedidos de licença para instalação destes equipamentos em aeroportos, centros comerciais e empresas que estão neste momento a ser avaliados pelo Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), que deverá decidir até ao fim do ano, informa Raquel Ramos, coordenadora do programa de DAE do INEM. Desde Agosto deste ano que há legislação que, pela primeira vez no país, autoriza o uso de desfibrilhadores automáticos externos por não médicos em ambiente não hospitalar. Actualmente há 61 ambulâncias equipadas com estes equipamentos, assim como duas motos de emergência existentes no país.

"Todos os outros aparelhos que existirão são ilegais", diz Raquel Ramos, reconhecendo que "há pressão comercial para a venda de aparelhos". Mas de pouco servem se não estiverem em condições e não houver pessoas com formação que os saibam administrar: "Ter não é a mesma coisa que saber usar."

No próximo ano vai arrancar uma campanha publicitária para incentivar a aplicação destes programas, cujos destinatários serão os responsáveis de espaços. Mas também se quer chegar à população para que colabore com o 112 nestes casos. Ao mesmo tempo, "o objectivo é gerir expectativas", pois "nem todas as situações vão ser resolvidas com este equipamento".

Os dados comprovam-no. Das 4501 paragens cardio-respiratórias elegíveis para reanimação só 1658 tinham causa cardíaca provável (cerca de 37 por cento) - e apenas nestas situações há indicação para desfibrilhação. E não basta haver estes aparelhos, sublinha Raquel Ramos, notando que mais vidas poderiam ser salvas se a população tivesse formação em Suporte Básico de Vida, ou seja, se tivessem aprendido a fazer massagens cardíacas e ventilações - operações que permitem "manter a circulação e a oxigenação até à chegada de meios mais diferenciados". Para que o INEM autorize a instalação destes aparelhos vai ser preciso que haja pessoas no local com este tipo de formação, por exemplo, os seguranças de um centro comercial.

Em vários países a formação em Suporte Básico de Vida está generalizada entre a população e é de ensino obrigatório. Em Portugal, afirma Raquel Ramos, "vai havendo algumas iniciativas pontualmente organizadas por entidades municipais e locais".

Dados do Registo Nacional de Paragem Cardio-respiratória revelam que apenas duas pessoas chegaram ao hospital com sinais de vida na admissão ao hospital quando o episódio foi presenciado apenas por circunstantes (familiares, transeuntes). Sempre que houve intervenção de equipas de emergência, chegaram com vida ao hospital 38 pessoas. Mas Raquel Ramos nota que faltam dados sobre a sobrevivência após a admissão hospitalar.

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