Flamengo promete Carnaval antecipado no Rio de Janeiro
Luiz Felipe Cabral é um jovem e discreto estudante do Rio de Janeiro que foi inesperadamente retirado do anonimato pelas câmaras da TV Globo na última quarta-feira. Na mão exibia o último dos cobiçados 80 mil bilhetes de acesso ao Estádio do Maracanã, onde hoje o Flamengo poderá sagrar-se campeão brasileiro, 17 anos depois do último título. Para trás ficaram 24 horas de espera numa tão interminável como caótica fila, com tumultos e intervenções da Polícia Militar pelo meio. Atrás de Cabral, um lacrimoso adepto recebia incrédulo a má notícia: "Acabou! Não tem mais, não!"
Foi em 1992, poucas semanas depois da renúncia de Collor de Melo à presidência do Brasil, que o Flamengo festejou o último título no campeonato nacional. Desde então, têm valido os êxitos na prova estadual do Rio de Janeiro para apaziguar a ansiedade dos aproximadamente 33 milhões de adeptos (três vezes mais do que toda a população portuguesa), que tornam este clube o mais popular do Brasil (ver caixa).
Nos últimos dias, têm convergido para o Rio autocarros provenientes de todo o país, repletos de adeptos organizados do Flamengo. Todos acreditam que, no final desta última jornada, a festa será rubro-negra, mas os outros candidatos ao título ainda não baixaram os braços. Na realidade, no mais emocionante Brasileirão (nome do campeonato nacional) dos últimos anos, são quatro as equipas ainda com hipóteses de vencerem a prova.
Com dois pontos de desvantagem face ao "Mengão", surgem o Internacional de Porto Alegre (que entrou na luta nas últimas rondas), o Palmeiras e o São Paulo. Este último, a confirmar-se uma vitória do Flamengo, será o grande derrotado na prova deste ano, onde esteve muito perto de festejar um inédito tetracampeonato. Dominadora nos últimos três "Brasileirões", a equipa paulista chegou à penúltima ronda como líder isolada, mas a derrota em Goiás (4-2), associada à vitória do Flamengo sobre o Corinthians (2-0), deitou tudo a perder.
A churrascada do GrémioMas mais do que a vantagem pontual, mais do que o factor casa, com mais de 80 mil apoiantes nas bancadas, mais do que toda a motivação do Flamengo, o que está a dar grande confiança aos adeptos rubro-negros é a posição do Grémio, o adversário de hoje no Maracanã. É que a equipa gaúcha promete ajudar à festa no Rio de Janeiro, não por simpatia pelo anfitrião, mas por despeito pelo segundo classificado do Brasileirão, o Internacional, com quem divide os adeptos da cidade de Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul.
Descansado no sétimo posto da classificação, já sem hipótese de se qualificar para a Taça dos Libertadores (a Liga dos Campeões sul-americana, sem os milhões europeus), o Grémio, onde alinha o ex-sportinguista Fábio Rochemback (cumpre castigo na última jornada), não quer, acima de tudo, contribuir para um eventual título do Internacional, o seu grande rival estadual. E tem-no manifestado de forma ostensiva. Na quinta-feira, enquanto a maioria das equipas do Brasileirão preparava minuciosamente a derradeira partida da prova, nos campos de Eldorado do Sul, a dez quilómetros de Porto Alegre, o plantel e dirigentes do Grémio confraternizavam numa animada churrascada, acompanhada por uma banda de pagode, num clima de férias antecipadas.
Ao longo da semana, o departamento clínico gremista tem ajudado à apreensão do Internacional, engrossando diariamente o rol de jogadores lesionados, impedidos de alinharem no Maracanã.
A importância de AdrianoA confirmar-se o título brasileiro, a temporada de 2009 será memorável para os "rubro-negros". No princípio de Maio conquistaram o seu quinto tricampeonato do Rio de Janeiro, que permitiu ultrapassar o grande rival carioca, Fluminense, na contabilidade estadual, somando 31 títulos. Dias depois, garantiram um reforço de peso para atacar o Brasileirão: nada mais do que o "grande" Adriano, acabado de regressar ao Brasil, depois de ter rescindido com o Inter de Milão.
Deprimido e sem alegria para jogar futebol (argumentos que convenceram os italianos a libertar o seu passe), o "Imperador" depressa recuperou a motivação no Rio de Janeiro, tornando-se fundamental para a progressiva ascensão do Flamengo na tabela classificativa. Hoje, para além do campeonato nacional, Adriano também defende o título de melhor goleador da prova, comandando a tabela com 19 golos (em 28 jogos), em igualdade com Diego Tardelli, do Atlético de Minas Gerais.