J. Hansen: "É preferível que a cimeira de Copenhaga falhe"

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Hansen opõe-se veementemente aos esquemas de compra e venda de emissões de CO2 para a atmosfera entre nações Peter Andrews/Reuters

“Preferia que não acontecesse [um acordo em Copenhaga], se as pessoas aceitarem a cimeira como sendo a ‘via certa’, em vez de a ‘via do desastre’”, indicou Hansen, que dirige o Instituto Goddard para os Estudos Espaciais, da NASA, em Nova Iorque.

O cientista que convenceu o mundo a prestar atenção ao perigo crescente do aquecimento global é muito claro quando diz ao “The Guardian” que seria melhor para o Planeta e para as futuras gerações que a cimeira de Copenhaga acabasse num desastre. James Hansen considera que qualquer acordo que venha a emergir das negociações será tão profundamente defeituoso que mais valia começar tudo de novo a partir do zero.

“Toda a abordagem é tão profundamente errada que é melhor reavaliar a situação. Se isto for uma coisa ao estilo Quioto, então as pessoas irão demorar anos a tentar determinar o que é que aquilo quer dizer exactamente”, criticou Hansen.

Hansen começou a apresentar-se diante do Congresso americano em 1989, alertando para as consequências do aquecimento global, e fez mais do que qualquer outro cientista na educação dos políticos norte-americanos acerca das mudanças climáticas e das suas consequências.

Apesar de se considerar um relutante orador, diz que foi forçado a entrar na esfera pública depois de as catástrofes naturais se terem começado a multiplicar.

Esta entrevista ao “The Guardian” acontece numa altura em que se registaram alguns progressos na cimeira de Copenhaga, com a Índia a anunciar um limite à emissão de CO2 para a atmosfera. Os quatro maiores produtores de gases com efeito de estufa - EUA, China, UE e Índia - já se comprometeram com limites para as emissões, mas ainda há muito a fazer e muitos obstáculos a serem ultrapassados.

Hansen opõe-se veementemente aos esquemas de compra e venda de emissões de CO2 para a atmosfera entre nações. Compara este sistema às indulgências vendidas pelo Clero na Idade Média, quando os fiéis compravam a redenção das suas almas dando dinheiro aos padres. Neste caso os países ricos dão dinheiro aos países pobres em troca de emissões de carbono.

Hansen é igualmente muito crítico das actuações de Barack Obama e de Al Gore, afirmando que estes líderes mundiais falharam aquele que é considerado hoje o desafio moral da nossa era. Porque o problema do corte das emissões de CO2 para a atmosfera não se pode ajustar aos interesses políticos e económicos internacionais. “Neste tipo de assuntos não pode haver compromissos”, avalia. “Não temos um líder que seja capaz de entender o que se passa e que diga o que realmente importa dizer. Em vez disso, estamos todos a tentar continuar com os negócios de sempre”.

Apesar de tudo, Hansen permanece optimista: “Podemos já nos ter comprometido com um aumento do nível do mar em pelo menos um metro - ou mais - mas isso não quer dizer que desistamos. Porque se desistirmos, em vez de um poderemos ter de lidar com dezenas de metros. Por isso acho contraproducente as pessoas dizerem que atingimos um ponto de não retorno e que é demasiado tarde. Nesse caso, em que é que estamos a pensar: vamos abandonar o Planeta? Devemos minimizar os estragos”, vaticinou.

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