Robbie Williams

O grande tesouro da obra da Robbie Williams é Robbie Williams: gostando-se das suas canções ou tendo-se a mínima sensatez de não as suportar, admira-se o seu jeito raro para "desfraldar a fraude". Isto é: Williams está sempre a dizer "Eu sou uma fraude" e ao dizê-lo deixamos de o ver como a fraude que musicalmente é para o apreciarmos como um "showman" que a sabe toda.

Na prática isto permitiu-lhe fazer-nos rir sempre com o seu ridículo (pessoal ou de persona), ao mesmo tempo que esquecíamos o ridículo da sua música.

Agora, depois de uns tropeções comerciais, Williams quer voltar a demonstrar que manda no jogo da pop camaleónica, o que se nota logo à partida no título, "Reality Killed The Vídeo Star": é como se, novamente, admitisse que nunca passou de estrela de vídeo (e não de música) e que entretanto a realidade derrubou essa falsa carapaça do estrelato. É também uma piada a Trevor Horn, o ex-Buggles que lhe produz o disco e tenta todo o tipo de truques para tornar estas canções orelhudas. Enche "Morning Sun", uma baladucha ao piano, de cordas grandiosas e na segunda parte da canção coloca uma viragem Beatlesca; as cordas voltam a aparecer em "Bodies", que começa como electro-bosta para se tornar em bosta empolada; e no rock de "Do you mind" lá estão elas de novo, as cordas grandiosas, indiscreto elefante numa loja de fancaria para novos-ricos. Canção a canção os truques acabam por parecer o que são: truques, maquilhagem que disfarça a acne mas não trata a pele. E Williams soa a um Elton John com vergonha de ser parolo, um Mika a esforçar-se por ter dignidade. Uma fraude, portanto.

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