Escolha de Carlos Carvalhal surpreende sportinguistas

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Carvalhal ganhou uma Taça da Liga pelo V. Setúbal Ricardo Jorge Carvalho (arquivo)

Tal como José Eduardo Bettencourt tinha prometido, o nome do novo treinador do Sporting foi uma surpresa. Carlos Carvalhal foi o escolhido pelo presidente dos "leões" para suceder a Paulo Bento, que apresentou a demissão há pouco mais de uma semana. Uma decisão que surpreendeu o universo sportinguista, poucos dias depois de as negociações para a contratação de André Villas-Boas terem falhado.

O comunicado oficial surgiu no site da CMVM (Comissão do Mercado de Valores Mobiliários) às 2h48 da madrugada de domingo, informando que o contrato selado com o novo treinador "é válido até ao final da época desportiva em curso", com opção por mais uma temporada. Depois das exigências financeiras da Académica para libertar Villas-Boas (cerca de um milhão de euros) e do próprio recuo do jovem técnico, esta acabou por ser a solução alternativa encontrada pelos responsáveis leoninos, sem músculo para outras aventuras financeiras.

"Com todo o respeito, acho que o Sporting merecia muito mais", defendeu ontem ao PÚBLICO Sérgio Abrantes Mendes, ex-candidato à presidência do clube, que foi muito crítico em relação ao desempenho da direcção da SAD no processo de substituição de Paulo Bento. Para Menezes Rodrigues, ex-membro da direcção e actual conselheiro leonino, esta escolha foi fruto das circunstâncias. "Nesta altura do campeonato, não há assim tantos treinadores disponíveis", lembrou, deixando em aberto se terá sido "a melhor escolha possível". Para o empresário, a resposta virá dentro de momentos: "Um treinador é como o melão, só depois aberto é que se sabe se é bom."

A surpresa e algum pessimismo moderado foram a tónica dominante entre todas as personalidades ouvidas pelo PÚBLICO durante o dia de ontem. Um membro do Conselho Leonino, que não quis ser identificado, avisou que o clube está a viver um clima de "pré-declínio" nos últimos tempos e que a escolha de Carlos Carvalhal é mais um dos sintomas. Já a Associação de Adeptos do Sporting (AAS) desejou boa sorte ao novo técnico, considerando que foi o treinador "possível" nesta altura. "No final da época é que será altura de fazer o balanço do seu trabalho", considerou Nuno Manaia da Costa, presidente da mesa da assembleia geral deste organismo.

Mais satisfeita está a AAS em relação às entradas de Sá Pinto e Miguel Salema Garção na área do futebol. "São sportinguistas e podem trazer um novo ânimo à equipa", defendeu Manaia da Costa, ressalvando que, na sua opinião, ainda falta um outro elemento na estrutura, "um director desportivo", que faça a ponte entre estes dois elementos e José Eduardo Bettencourt, presidente da SAD: "Acredito em desenvolvimentos para breve neste aspecto."

Mas para Abrantes Mendes, a crise em que vive mergulhado o Sporting não se esgota na estrutura do futebol. "É um problema de regime que está a chegar ao fim. O Sporting está em declínio há muitos anos", sustentou, apontando o dedo a "determinado tipo de soluções" que foram apresentadas pelas últimas direcções e que acabaram por ser "sufragadas pelos sócios", como a "venda de património não-desportivo".

Aos 43 anos, o bracarense chega a um grande

"Se eu fosse um treinador estrangeiro estaria a treinar um grande", lamentou Carlos Carvalhal, no final da temporada 2007-08, numa entrevista ao Jornal de Notícias, antes de partir para uma aventura efémera pelo futebol grego. Mas afinal não foi preciso ao técnico, de 43 anos, alterar a nacionalidade para despertar o interesse do Sporting e alcançar o mais alto patamar da sua carreira.

Carvalhal não terá certamente previsto que a "promoção" chegaria agora. Disponível, depois de uma passagem mal sucedida pelos comandos do Marítimo, o treinador aguardava por nova oportunidade. Não resistiu a um arranque de temporada acidentado, rescindindo, no final de Setembro passado, com os insulares, após três derrotas consecutivas. Será o quarto treinador a orientar dois clubes diferentes esta época na Liga portuguesa.

Com uma carreira oscilante, Carvalhal tem no seu currículo duas finais, ambas precisamente contra o Sporting. A primeira foi a final da Taça de Portugal, de 2001-02, quando começava a dar nas vistas ao serviço do Leixões, então na II Divisão B. Perdeu (1-0), mas iria vingar-se seis anos depois, com o Vitória de Setúbal, retirando a Paulo Bento a primeira edição da Taça da Liga.

Entre estes dois pontos altos, o treinador minhoto acabou por defraudar as expectativas no Sp. Braga (2006-07), tal como, mais recentemente, na Madeira.

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