Brad Mehldau assume uma rotina de vida surpreendentemente simples: "Praticar, filhos, praticar, filhos... muito trabalho, muita diversão!", explica ao Ípsilon por e-mail. Claro que nem sempre as coisas foram assim tão simples na vida do pianista que é actualmente considerado um dos músicos de topo na alta competição do jazz mundial. Hoje com 39 anos de idade, Mehldau começou a tocar aos seis e aos 24, quando formou o seu famoso trio com o contrabaixista Larry Grenadier e o baterista Jorge Rossy, já era considerado um verdadeiro prodígio no meio do jazz. Foi também com esta idade que Mehldau considera ter alcançado o seu próprio som, a sua voz, factor que o pianista identifica como o principal desafio para qualquer músico de jazz, particularmente numa altura em que a técnica e a aprendizagem de novos estilos são ensinadas em escolas, por todo o mundo.
Interrogado sobre a importância de uma estrutura na sua música, Mehldau diz: "A estrutura musical é absolutamente essencial para mim, mas muitas pessoas dizem-me que ouvem pouca estrutura na música que eu toco." É exactamente esta capacidade de tornar natural e espontâneo algo que está fortemente estruturado que faz com que todos possamos relacionar-nos sua música. Nela ouvimos os geniais devaneios de Keith Jarrett, o caleidoscópio estrutural de Glenn Gould ao interpretar Bach, ou os ritmos hipnóticos de bandas como os Radiohead ou os Spiritualized. Referindo-se aos sons que o inspiram actualmente, Mehldau recusa fixar-se em nomes ou bandas específicas: "Para mim não há ‘melhores'. Os nossos gostos e interesses mudam com o tempo. Aquilo de que gostamos num determinado momento das nossas vidas torna-se depois menos interessante e é substituido por outra coisa. Vou a concertos e ouço muita música, basicamente ‘downloads' que compro na net".
Com Grenadier no contrabaixo e Jeff Ballard (que substituiu Rossy em 2005) na bateria, Mehldau gravou "Live", registo editado no ano passado que destaca a incrível capacidade do trio para reinterpretar temas oriundos da música popular, transformando-os em poderosos veículos para a improvisação, disciplina que o pianista encara como "um fenómeno verdadeiramente fascinante - uma das grandes e misteriosas capacidades humanas que ainda hoje não compreendemos".