Linha Figueira da Foz-Pampilhosa fechou em Janeiro e ainda não entrou em obras

Foto
Os comboios circulavam a 47 km por hora devido ao mau estado da via cARLA CARVALHO TOMÁS

Refer ainda não tem projecto nem verba consignada para as obras. A empresa

paga 13.500 euros mensais para que a CP assegure o serviço rodoviário alternativo

A via-férrea entre Figueira da Foz, Cantanhede e Pampilhosa foi subitamente encerrada pela Refer a 4 de Janeiro deste ano por motivos de segurança, mas não foi ainda alvo de quaisquer trabalhos de recuperação, não tendo esta empresa concluído o projecto para a sua reabilitação.

Este caso contrasta com o das linhas do Tâmega e do Corgo - que fecharam também de forma abrupta e pelos mesmos motivos - em Março deste ano, mas para as quais a Refer já possui verba afectada e uma calendarização do investimento que ditará a sua reabertura no início de 2011.

Questionado pelo PÚBLICO sobre as razões deste atraso, o serviço de comunicação daquela empresa pública limitou-se a informar que "foi lançado o processo relativo ao concurso público para a materialização e cálculo da poligonal de apoio, contemplando o levantamento coordenado da posição actual da via, o nivelamento geométrico e os perfis transversais". Ou seja, a única certeza é que a Refer irá levantar os carris e as travessas, mas nada está definido sobre o grau de intervenção a fazer.

Também questionada pelo PÚBLICO, no mês passado, sobre o não andamento deste projecto, a secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, remeteu explicações para mais tarde sem que as mesmas se concretizassem. Contudo, referiu que aquela linha deveria estar preparada, no futuro, tanto para o tráfego de mercadorias (dando seguimento à Linha da Beira Alta para o porto da Figueira da Foz e Linha do Oeste) como para integrar o Sistema de Mobilidade do Mondego numa lógica de suburbano de Coimbra.

Desde Janeiro, e em virtude do encerramento da linha, a Refer tem vindo a pagar 13.500 euros por mês para assegurar à CP o serviço rodoviário alternativo. Agora, os escassos passageiros que viajavam entre Coimbra e Figueira da Foz apanham o autocarro em vez da automotora. Até ao encerramento destes 50 quilómetros de via-férrea, havia três ligações diárias entre as duas cidades (via Pampilhosa e Cantanhede), demorando a viagem sobre carris cerca de uma hora e meia.

Para a suspensão do serviço, a Refer baseou-se num relatório interno que apontava risco de descarrilamento em virtude do mau estado da infra-estrutura, que ainda possui carris dos anos trinta do séc. XX.

Para esta decisão radical contribuíram os acidentes na Linha do Tua no ano anterior e a pressão do Governo para apurar responsabilidades na CP e na Refer, o que levou a administração desta última a tomar uma postura defensiva. No entanto, a velocidade média dos comboios - na ordem dos 47 quilómetros por hora - era a adequada ao mau estado da via.

Seja qual for o seu futuro - e admitindo que a via não será transformada em ecopista -, as obras terão de incluir o levantamento dos carris, travessas e balastro e limpeza da plataforma e colocação de uma linha nova. Um investimento de cerca de 16 milhões de euros para o qual não há verba consignada nem projecto executado.

Sugerir correcção