Ainda não há livro mas os diários de Nelson Mandela já foram um sucesso na feira de Frankfurt

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Nelson Mandela em 2008 Gianluigi Guercia/AFP

Aquele que é considerado o "livro da feira" de Frankfurt já foi comprado por uma editora portuguesa, a Objectiva. São os diários de Nelson Mandela, que abriu os seus arquivos

Aqui vos deixo a perguntinha do costume: qual é o livro desta Feira de Frankfurt, aquele de que toda a gente fala mas ainda ninguém viu simplesmente porque ainda não está escrito? Primeira pista: "Conversations with Myself" é o título. Segunda pista: foi escrito por alguém que ainda não morreu mas já ficou na História. O seu autor é Nelson Mandela. São os diários, as cartas, os discursos, os apontamentos, os pensamentos que o ex-Presidente da África do Sul escreveu nos 27 anos em que esteve preso em Robben Island e nos cinco anos em que esteve na presidência. O Prémio Nobel da Paz 1993 abriu todos os seus arquivos que pertencem à Fundação Nelson Mandela e o mundo poderá ficar surpreendido por aquilo que lá se encontra. O livro ainda está em projecto mas será publicado no Outono de 2010, quando se assinalam os 20 anos da sua libertação. Portugal foi um dos primeiros países a adquirirem os direitos. Alexandre Vasconcelos e Sá, da editora Objectiva, do Grupo Santillana Portugal, confirmou ao P2 que vai publicar o livro.

O entusiasmo em Frankfurt por esta obra é tanto que, ontem, no boletim distribuído na feira pela revista do sector, "The Bookseller", lia-se: "Feira do Livro de Frankfurt aos pés de Mandela". "É o livro da feira", diz Alexandre Vasconcelos e Sá, que admira "tudo o que Mandela é" e o que representa. "Ainda não há livro", explica, mas os editores receberam cerca de 50 páginas com a descrição do projecto, manuscritos e imagens. Mandela não aparecerá nem como um santo, nem como um ícone, através destes apontamentos que ele escrevia todos os dias. E descobre-se até a criança que foi, porque há coisas escritas quando tinha 11 anos.

Os direitos de "Conversations with Myself" só foram colocados à venda por Jonny Geller, da agência literária Curtis Brown na sexta-feira da semana passada. Mas começou logo a receber propostas e nesta quarta-feira - já na Feira de Frankfurt - fechou negócio com a editora portuguesa e com editoras da França e da Dinamarca. Estão na corrida também o Brasil, Estados Unidos, Suécia, Holanda, Itália, Alemanha, etc. O agente literário português ficou impressionado com o que viu dos arquivos. Referiu a emoção de duas cartas que Mandela escreveu quando dois dos seus filhos morreram e também revelou que estes papéis poderão trazer novas interpretações sobre alguns acontecimentos históricos em que Mandela participou.

O escritor italiano Umberto Eco é um habitué da Feira de Frankfurt. Este ano também por cá, anda de novo visual (cortou a barba, deixou o bigode). Está a lançar um novo livro "A Vertigem das Listas", que será publicado em Portugal pela Difel ainda este mês. Na quarta-feira, houve uma festa em que se encontraram os seus editores de todo o mundo e, ontem, Eco andou a mostrar aos seus alunos aquela que é a maior feira do sector.

Foi quando o Museu do Louvre, em Paris, propôs ao professor Umberto Eco que organizasse durante todo o mês de Novembro de 2009 uma série de conferências, exposições, leituras públicas, concertos, projecções, etc., acerca de um assunto à sua escolha que ele não hesitou "um momento sequer" e disse-lhes que queria que o tema fosse: o elenco, a lista, o catálogo, a enumeração. Dessa ideia para o Louvre nasceu um livro. Este "A Vertigem das Listas", que está a ser lançado quase em simultâneo em 14 países. Nele Umberto Eco reflecte sobre como a ideia de catálogo mudou ao longo dos séculos e como de um período para outro foi expressando o espírito do tempo (fica-se a saber por exemplo que a história da literatura de todos os tempos é infinitamente rica em listas, de Hesíodo a Joyce, de Ezequiel a Gadda). É um livro na linha de "História da Beleza" e "História do Feio" (os seus livros anteriores). Tem imagens, textos de Eco e uma antologia de textos de outros pensadores.

A Difel, editora portuguesa que edita este livro, não está em Frankfurt. Por isso, a obra na tradução portuguesa só pode ser vista no stand da editora italiana Bompiani.

Esta feira já não é o ponto de encontro de todos os editores portugueses. Muitos não vieram. E quem veio, fica na feira menos tempo. No hall 5, depois de se passarem os stands dos editores italianos e espanhóis, surge o espaço dedicado aos portugueses ao lado dos brasileiros. No corredor que divide os dois países ouve-se falar português nos diferentes sotaques e o stand do grupo Leya tem agora uma estante dedicada à Leya Brasil.

Em destaque está "Caim", o novo romance de José Saramago ("a história dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele") e a escritora Dulce Maria Cardoso está na feira por causa do Prémio da União Europeia para a Literatura. Para ontem à noite estava marcada uma leitura do seu livro na livraria de Teo Ferrer.

Herta Müller, Prémio Nobel da Literatura deste ano, passará hoje pela feira e será entrevistada no famoso "Blue Sofa" (Sofá Azul), programa literário gravado para a ZDF por onde já passaram vários escritores.

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