Cumprimento entre arguidos do processo "Passerelle" típico de organização mafiosa

Um inspector da Polícia Judiciária (PJ) disse hoje no julgamento do caso “Passerelle”, que envolve 15 pessoas e nove sociedades pronunciadas por 1.200 crimes, que o cumprimento entre alguns dos arguidos era característico de uma organização mafiosa.

“É um comportamento tipicamente de uma organização mafiosa. Voltámos ao tempo de ‘O Padrinho’”, afirmou Marques Bom, em mais uma sessão do julgamento, que decorre no Tribunal Judicial de Leiria.

O inspector, que está na Unidade Nacional Contra o Terrorismo, respondia ao procurador da República Albano Pinto, que o questionou sobre a forma como alguns dos arguidos se cumprimentavam.

Marques Bom explicou que Paulo Baptista, alegadamente gerente de um dos estabelecimentos “Passerelle”, cumprimentava com um beijo na cara Alfredo Morais, acrescentando que as escutas telefónicas revelaram que a forma de despedida era igualmente “com um beijinho”.

A testemunha descreveu os diversos serviços que as bailarinas efectuavam em alguns dos estabelecimentos, assim como a relação de diversos arguidos deste processo com os locais de diversão, invocando, neste último caso, sobretudo as intersecções telefónicas.

Marques Bom explicou que as bailarinas desenvolviam acções “para provocar o consumo e outros serviços” por parte dos clientes, sustentando que estas “trabalhavam à comissão”.

Sobre o arguido Alfredo Morais, o inspector da PJ assegurou que este tinha a cargo dele a área de segurança dos estabelecimentos, constatação que foi efectuada da “associação da sua comparência em determinais locais com os telefonemas que eram feitos”.

A investigação do caso “Passerelle”, nome de uma cadeia de casas de 'striptease', culminou em Janeiro de 2006 com a detenção de Vítor Trindade e de Alfredo Morais, antigo agente da PSP.

No despacho de acusação, que foi praticamente reproduzido pelo juiz de instrução criminal, o Ministério Público (MP) sustenta que os arguidos formularam um plano para criar estruturas comerciais que se dedicavam a fugir aos impostos, na ordem dos 25 milhões de euros.

O MP diz que o grupo tinha como finalidade “a exploração de actividades relacionadas com o sexo a realizar por mulheres, sobretudo estrangeiras, em estabelecimentos espalhados pelo país”.

A Alfredo Morais cabia também a responsabilidade de colocar à disposição dos estabelecimentos um serviço de segurança, lê-se na decisão do MP.

Tráfico de pessoas, angariação de mão-de-obra ilegal, associação criminosa, auxílio à imigração ilegal, fraude fiscal e detenção de arma e acessórios proibidos são alguns dos crimes em julgamento, que começou a 05 de Maio e prevê sessões até ao dia 21 de Dezembro.

A próxima sessão realiza-se dia 22, às 09:20, estando prevista a audição de cinco testemunhas.

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