Hillary Clinton promove o “reset” dos Estados Unidos e Rússia junto dos russos

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Clinton e Lavrov inauguraram monumento ao poeta norte-americano Walt Whitman DMITRY KOSTYUKOV/Reuters

A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, procura hoje conquistar a boa vontade da opinião pública russa para a estratégia de relançamento de relações entre os dois países, depois das reuniões encetadas ontem com as entidades de Estado e das quais nada saiu de concreto quando aos pontos de maior divergência entre os Estados Unidos e a Rússia, desde o Irão à defesa global antimíssil.

Quer com o homólogo russo, Serguei Lavrov, como com o Presidente do país, Dmitri Medvedev, Clinton não mais conseguiu do que o reiterar de “reservas” do Kremlin sobre um eventual reforço de sanções a Teerão, caso os iranianos não garantam os propósitos exclusivamente pacíficos que dizem ter para o seu polémico programa nuclear. Clinton, de resto, optou aqui por afinar com a Rússia, sublinhando que também para os Estados Unidos “ainda não chegou” o momento de serem discutidas e aprovadas novas sanções.

Pouco de concreto foi também avançado sobre as possíveis alternativas à expansão do escudo de defesa antimíssil norte-americano para a Europa Central (um radar de detecção para a República Checa e uma bateria de dez mísseis interceptores para a Polónia). A Rússia opõe-se ferozmente a este projecto lançado pelo antecessor de Barack Obama na Casa Branca – George W. Bush – alegando que o mesmo põe em risco a sua segurança nacional, e há um mês recebeu um sinal do Presidente norte-americano de que os Estados Unidos muito provavelmente recuarão neste plano.

As novas prioridades da política externa norte-americana passam muito agora por conseguir conquistar a cooperação de Moscovo numa série de temas quentes que vão desde o Irão à guerra no Afeganistão e ao grande objectivo de Obama de desnuclearização global. O Presidente dos Estados Unidos já deixou bem claro que quer um novo tipo de relacionamento com o antigo inimigo russo – que mergulhou numa onda de elevada tensão no ano passado na esteira da guerra da Geórgia, ainda com Bush na Casa Branca. Muito desse propósito esteve nesta visita de dois dias da chefe da diplomacia norte-americana à Rússia, a primeira feita por Clinton desde que assumiu o cargo.

E a imprensa russa respondeu de forma modesta mas positiva. “O maior resultado das reuniões de Moscovo é que as partes deixaram de dizer uma à outra como devem agir e se envolveram num diálogo sério sobre os assuntos”, avaliava o influente comentador político russo Vladislav Vorobiov na edição de hoje do jornal estatal de enorme tiragem “Rossiskaia Gazeta”.

Sem Putin mas com o povo

Na ronda de reuniões ao mais alto nível não se incluiu porém uma com o chefe do Governo russo, Vladimir Putin – mentor e predecessor de Medvedev, que continua a ser visto como a figura mais influente e determinante nos rumos políticos da Rússia. Clinton lamentou-o: “Gostaria de me ter encontrado com o primeiro-ministro Putin e ambos queríamos fazê-lo, mas as nossas agendas não o permitiram”, sublinhou, em referência ao facto de Putin estar de visita à China onde, ontem, assinou um pacote de acordos energéticos e financeiros a ascenderem aos 3,5 mil milhões de dólares. “Fico desejosa de o ver no futuro”, afirmou ainda a secretária de Estado.


Ainda antes de pôr termo a este périplo europeu – que a fez parar também em Zurique, Londres e Belfast – a chefe da diplomacia norte-americana reunir-se-á com cidadãos comuns na capital russa, incluindo aqui um debate na Universidade de Moscovo, e também na multiétnica Kazan, grande centro industrial, comercial e cultural da Rússia. “O que me é particularmente interessante sobre Kazan é ter uma mesquita e uma igreja ortodoxa lado a lado e as pessoas viverem em paz juntas”, sublinhou Clinton a propósito desta cidade russa – chamada “terceira capital” – da república do Tatarstão, onde habitam quase quatro milhões de pessoas pertencentes a oito grupos étnicos diferentes.

Em entrevista hoje à rádio Ecos de Moscovo, um dos já muito raros órgãos de comunicação russos que não estão sob o controlo do Estado, a chefe da diplomacia norte-americana revelou ter abordado nas reuniões da véspera a polémica questão dos direitos humanos na Rússia – sobre o que Washington e Moscovo amiúde se desentendem. “Mencionei-lhes nomes, falei-lhes dos assassinatos de jornalistas, e disse-lhes que esta é uma grande preocupação não apenas para os Estados Unidos mas também para o povo da Rússia”, contou Clinton que, ainda ontem, manteve alguns encontros à porta fechada com activistas russos dos direitos humanos.

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