Alexandra Moura - Criação em Lisboa, confecção no paraíso

Foto
É a primeira vez que Alexandra Moura trabalha a fundo com a cor vermelha SÉRGIO AZENHA

Chegamos ao "paraíso" de Alexandra Moura, Eugénia, Helena e Clara através de estradas serpenteantes com pinheiros e eucaliptos ao longe. É na vivenda amarela que trabalham as costureiras para "as modas", esclarecem os habitantes de Cunhas, na região da Figueira da Foz. É numa sala luminosa na casa de Eugénia que está todo o material de Alexandra Moura feito a partir das ideias e do trabalho criativo que nasce em Lisboa.

Numcharriot estão algumas peças da colecção Primavera/Verão 2010 que apresenta amanhã: vermelhos, negros irisados, vermelhos irisados, uma explosão carmim entre os anos 1980 e os anos 1920, numa continuação do trabalho de tema e silhueta da estação passada (que na verdade é esta que começámos a viver, mas o tempo da moda é assim, como uma âncora a arrastar no fundo do mar sempre a forçar a corrente a ir para diante).

Há cerca de seis anos que Alexandra Moura trabalha assim. Dá aulas, cria fardas, faz colecções de autor - com a amiga de liceu, Eugénia, ao lado. Quando se conheceram, Alexandra Moura só pensava em moda para consumo próprio. Queria era ser bióloga ou astrónoma, mas pedia ajuda técnica à amiga para confeccionar as suas experiências têxteis. Já no IADE, propôs-lhe que se tornasse uma espécie de braço técnico da futura marca Alexandra Moura. E assim foi.

No meio de rolos de tecido, caixas com botões, barbas ou calendários, Alexandra explica ao P2 o percurso que começa na sua cabeça, se traduz nos esboços e fichas técnicas, passa para as mãos capazes de Eugénia para delas se fazerem moldes e depois para as mãos de Clara e Helena, que costuram à máquina ou à mão os detalhes, as montagens das peças. O busto com medidas, regulável, acompanha-as há muito.

É uma das peças essenciais, porque "tudo é trabalhado e moldado no corpo. Os detalhes manuais são moldados no busto e no fundo as peças tornam-se únicas. É tudo feito à mão", sublinha Moura. Tudo passa por cerca de dez, 12 mãos, de outras modistas, antigas operárias fabris que, com as falências, levaram para casa o seu know-how e alguma maquinaria. Depois de prontas, as peças são como as meninas más: vão para toda a parte. Algumas só se fazem mesmo uma vez e por isso "há sempre pessoas que nos procuram para as levar logo". Vão para os braços de criativos ou advogados, da governadora civil de Lisboa, de portugueses e estrangeiros. E também vão com Alexandra: "De vez em quando, há peças de que não me desfaço, são muito minhas."

Di-lo junto ao busto com um vestido icónico desta colecção, vermelho (cor pela primeira vez explorada a fundo e em número pela criadora, que só no Verão de 2007 teve um único coordenado vermelho) às riscas, cujos volumes são como laços de "amor, vida, presentes que nos damos", símbolo dessa silhueta trabalhada de forma orgânica e ligada à tribo Surma, em triângulo tubular, ombros muito marcados, cintura esguia. Frente ao busto, pende um fio longo com pedaços de tecidos que já vimos em qualquer lado. "É o amuleto da minha mãe, que todas as colecções escolhe um tecido e com ele dá o nó da sorte", sorri Alexandra Moura.

JoanaAmaral CardosoAlexandra Moura Criação em Lisboa, confecção no paraíso

Sugerir correcção