Relatório da UE conclui que Tbilissi “disparou primeiro tiro” na guerra da Geórgia

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Soldados georgianos: o perigo de conflito ainda se mantém David Mdzinarishvili/REUTERS

O relatório encomendado pela União Europeia (UE) sobre as causas da guerra da Geórgia de Agosto de 2008 conclui que foi Tbilissi a responsável pelo começo do conflito. Mas o documento, ontem apresentado ao Conselho de Ministros da UE, ao fim de dez meses de inquéritos e investigações, não isenta de responsabilidades Moscovo pelas continuadas “provocações” feitas à soberania georgiana nas regiões separatistas da Abkházia e Ossétia do Sul. Além disso, alerta para o risco elevado de um novo reacender da guerra.

“O risco de um novo confronto permanece sério”, refere o documento. Mais de um ano depois da entrada dos tanques russos na Ossétia do Sul, “há tensões persistentes” entre a minoria russa e os georgianos, inclusive nas fronteiras rebeldes, que estão “em muitos casos perto de hostilidades abertas”, constata.

Sobre as responsabilidades, o documento especifica: “Foi o bombardeamento de Tskhinvali pelas forças armadas georgianas na noite de 7 para 8 de Agosto de 2008 que deu início ao conflito armado de vasta amplitude na Geórgia”, do qual resultaram centenas de mortos e milhares de deslocados.

A equipa de investigadores – cerca de 30 peritos militares e legais e historiadores, liderados pela embaixadora suíça Heidi Tagliavini – rejeitou liminarmente o argumento justificativo da ofensiva usado pelo Presidente georgiano, Mikhail Saakachvili.

Este tentou persuadir no último ano as instâncias internacionais de que não teve outra opção se não a de dar luz verde ao bombardeamento da “capital” da Ossétia do Sul face ao que descreveu como “uma invasão russa em curso”. “Não consideramos suficientemente demonstrada a alegação de que havia uma ofensiva militar russa de grande amplitude na Ossétia do Sul antes de 8 de Agosto”, sublinham os investigadores europeus. Mas é igualmente destacado que o bombardeamento de Tskhinvali “constitui apenas o ponto culminante de um longo período de escalada de tensões e de provocações” da Rússia.

Moscovo – que encoraja há vários anos os movimentos separatistas georgianos na Ossétia do Sul e na Abkházia, treinando as suas forças militares e emitindo passaportes russos aos seus habitantes – acolheu com agrado as conclusões do relatório, apesar de ali ser apontado que ambos os lados violaram as leis internacionais humanitárias durante o conflito armado. Mais: a equipa de Tagliavini não encontrou justificação para o avanço da operação militar russa em território georgiano, estendendo-se para lá da Ossétia do Sul até à Abkházia e entrando mesmo em território georgiano não disputado até bem perto de Tbilissi.

Fica “confirmado sem equívocos que quem começou a guerra foi a Geórgia”, congratulou-se porém o embaixador russo na UE, Vladimir Tchijov. Já Tbilissi preferiu dar ênfase ao retrato negativo da Rússia expresso no documento e ignorar a atribuição directa de culpa que lhe foi feita pelo início do conflito. “O relatório prova que a Rússia esteve o tempo todo a preparar-se para a guerra”, disse o ministro georgiano da Reintegração, Temur Iakobachvili

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