Caso Polanski divide classe política e artística e promete prolongar-se

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Na prisão, o realizador encontra-se bem, grato pelo apoio mas fragilizado pelo sucedido.

A detenção de Roman Polanski é agora tanto uma questão judicial quanto moral. E de equipas. Ou se está contra a detenção de Polanski na Suíça, ou se está a favor. E o caso parece não terminar em breve: o apelo dos advogados do realizador que contesta o mandado de captura e o pedido de extradição relativo ao não-cumprimento de pena pelo crime de relações sexuais com uma menor em 1977 vai ser avaliado "nas próximas semanas". E a possibilidade de Polanski ser libertado sob fiança é muito remota.

O Tribunal Federal Penal suíço indicava ontem em comunicado no seu site que o pedido de apelo será avaliado nas próximas semanas e que até lá não se pronunciará publicamente sobre o caso que está a dividir a opinião pública.

Nos últimos dias, uma petição que contesta as condições em que foi detido e pede a sua libertação foi assinada por mais de cem protagonistas da indústria cinematográfica, sobretudo europeus, de Pedro Almodóvar a Luc e Jean-Pierre Dardenne, passando agora também pelos americanos David Lynch, Woody Allen ou Martin Scorsese. Segunda-feira, os ministros dos Negócios Estrangeiros francês e polaco escreveram à secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, pedindo-lhe a libertação do cineasta.

Mas a inicial barreira de apoio começou a abrir brechas. O realizador Luc Besson defendia segunda-feira que a justiça tem de ser igual para todos. Tanto no Parlamento Europeu quanto no francês, ouviram-se vozes de protesto contra a defesa de Polanski por parte do Governo. O eurodeputado e activista do Maio de 1968 Daniel Cohn-Bendit disse ontem: "Ele violou uma menina de 13 anos. É um problema judicial e acho que um ministro da Cultura, mesmo que se chame Mitterrand, deve dizer: aguardo para conhecer o processo". Frédéric Mitterrand considerou anteontem "abominável" a detenção de Polanski. No Parlamento francês, vários deputados da maioria de direita distanciaram-se da postura dos seus ministros.

O realizador franco-polaco, de 76 anos, está detido em Zurique desde sábado à noite ao abrigo do mandado de detenção que sobre ele pende desde que, em 1978, abandonou os EUA. Polanski terá fugido por suspeitar de que a justiça de Los Angeles planearia subverter o acordo que o levou a cumprir cerca de 40 dias de avaliação psiquiátrica depois de ter confessado o crime público de sexo com uma menina de 13 anos. A reviravolta poderia levar ao encarceramento do realizador por 50 anos. Agora, e se Polanski contestar a extradição até às últimas consequências, o processo pode arrastar-se durante anos, indicam fontes judiciais norte-americanas citadas pela Reuters.

Do lado suíço, a ministra dos Negócios Estrangeiros queixou-se ontem em conferência de imprensa que o seu gabinete nada sabia sobre o plano de detenção de Polanski e que este foi "pouco elegante" e que mais tacto teria sido desejável, já que na cerimónia a que Polanski se dirigia para ser homenageado também estaria presente o ministro da Cultura suíço. Já nos EUA, que tem 60 dias para exigir a extradição de Polanski, levanta-se a possibilidade de um perdão e o gabinete do Governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, confirmou que o governador tem a autoridade para o conceder mas que nunca foi contactado sobre o tema. Entretanto, o Ministério Público de Los Angeles divulgou uma cronologia que dá conta de várias tentativas, ao longo dos anos, para deter o realizador nas suas passagens por Inglaterra, Israel, Canadá e Tailândia. Na prisão, Polanski encontra-se bem, grato pelo apoio mas fragilizado pelo sucedido.

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