Palau dá o exemplo e cria primeiro refúgio de tubarões com área da Península Ibérica

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Todos os anos são mortos 73 milhões de tubarões para o corte de barbatanas Reuters

Medida pioneira protege 130 espécies de tubarões e raias do Pacífico. O Presidente do Palau olhou para as provas científicas e disse não à sopa de barbatana de tubarão

São 600 mil quilómetros de mar no oceano Pacífico, um pouco mais do que Portugal e Espanha juntos, que vão tornar-se num local seguro para várias espécies de tubarão. Palau, um país com 200 ilhas a norte da Indonésia, não hesitou. "Palau vai declarar as suas águas territoriais e estender a zona económica para ser o primeiro refúgio oficial reconhecido para os tubarões", disse à AP o Presidente do país, Johnson Toribiong. Algumas nações já tinham implementado limites na pesca e medidas de restrição na procura de barbatanas, mas este é um passo importante saudado pelos conservacionistas.

"Há um efeito de demonstração, de começo e isso é particularmente importante", disse ao PÚBLICO por telefone Francisco Ferreira, dirigente da Quercus, acrescentando que a decisão "serve de exemplo para outros [países] tomarem medidas." Para Francisco Ferreira, o novo refúgio ocupa "uma área bastante grande".

Um estudo de 2006 mostra que todos os anos são mortos 73 milhões de tubarões para o corte das barbatanas, utilizadas para fazer sopa de barbatana de tubarão, uma iguaria da gastronomia chinesa. Os pescadores apanham os tubarões, cortam as barbatanas e largam-os no mar, onde acabam por morrer. "Estas criaturas estão a ser massacradas e podem estar à beira da extinção a não ser que tomemos acções positivas para protegê-las", disse o Presidente Toribiong à BBC News. Palau só tem um navio para controlar toda a área, recentemente foi reportado que 70 navios ilegais pescavam na região. "Vamos fazer o melhor que pudermos, dados os nossos recursos", disse Toribiong.

Existem naquele local do Pacífico 130 espécies de tubarões e raias ameaçados. A nível mundial, 21 por cento dos tubarões estão ameaçados, 18 estão quase ameaçados e desconhece-se o que se passa com 35 por cento. As espécies em maior perigo são as que vivem nas águas à superfície, mais sujeitas à caça. Uma das dificuldades da recuperação das populações é o tempo de vida longo dos tubarões e a sua lenta capacidade de reprodução.

Carl-Gustaf Lundin, que está à frente do programa marinho da União Internacional para a Conservação da Natureza, defende que existem outras medidas que podem ajudar a combater a pesca ilegal. "Não é necessário apanhar as pessoas no oceano. Todos necessitam de aportar os seus navios por isso, desde que a maioria das nações se juntem para se opor a pesca ilegal, as hipóteses de apanhá-los são bastante boas", disse à BBC News.

Apesar deste activismo, Palau não é contra a caça à baleia. O Presidente disse que, ao contrário do tubarão, ainda não encontrou fundamentos científicos para a protecção, apesar de haver mais estudos, preferindo também não falar das relações com o vizinho Japão, onde a carne de baleia é comum na alimentação. Mas com o tubarão, a gastronomia não é argumento: "Sentimos que a necessidade de proteger os tubarões é maior do que a de comer um prato de sopa."

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