Louçã quer tornar o PS refém do Bloco

O Bloco de Esquerda (BE) acredita que o PS vai ganhar as eleições legislativas – Francisco Louçã despreza a “campanha deserta” e a “incapacidade política” do PSD – e, por isso, a nova retórica dos bloquistas está concentrada em dois objectivos: aproximarem-se da ala esquerda do PS e deitar por terra as ambições da maioria absoluta.

A tentativa de seduzir os eleitores socialistas é tão forte que hoje, ao longo do dia, Louçã resgatou a “esquerda possível” e a “asfixia social” do discurso de Manuel Alegre em Coimbra. E juntou ainda ao lote de socialistas históricos que tem vindo a invocar (Alberto Martins, Alegre, António Arnaut) o nome de João Cravinho, que, recorde-se, apoiou a proposta bloquista de acabar com o sigilo bancário.

Em todas as iniciativas realizadas no distrito de Santarém (uma visita a uma feira, um almoço com apoiantes e um comício ao final da tarde) Louçã falou no PS e nos dirigentes que “não representam” o partido, como é o caso de Mário Soares.

As declarações de Soares, que hoje disse que não lhe “repugnava” uma aliança do PS com o BE, não podiam ter sido mais propícias. Foi a oportunidade para Louçã insistir na existência de dois PS: aquele que é dominado por Sócrates (o “PS de Sócrates”) e o que é composto pelos dirigentes históricos, que “não são ouvidos” pelo secretário-geral (Louçã garante que os ouve “com muita atenção”). “Mário Soares tem sido uma voz própria no debate político que não representa o PS”, disse. Algumas horas antes afirmara que “a grande tradição socialista” luta “contra a degradação e essa degradação chama-se Sócrates”.

A uma semana das eleições, o BE está já a olhar para o período pós-eleições, no qual será confrontado com “a prova mais importante” – “a decisão política”, afirmou Louçã no comício decorrido no Teatro Sá da Bandeira, em Santarém. Os bloquistas não acreditam numa derrota do PS e, atendendo às expectativas de virem a ser a terceira força mais votada, estão já a projectar fórmulas para condicionar o eventual Governo socialista. Perante cerca de 200 pessoas, Louçã tentou explicar os motivos pelos quais o BE rejeita uma aliança pós-eleitoral com o PS, recuperando a deixa “a menina dança?”, da autoria do radialista José Duarte. “De certeza que a resposta só poderia ser uma [sim]. Só que a política não é um baile, não é um arranjo”, sustentou. “A nossa resposta já todos conhecem bem. É sim a uma esquerda necessária que tem de combater e vencer as políticas que, com a maioria absoluta e com Sócrates, prejudicaram a economia, a segurança social e a saúde”, continuou.

O caminho estava aberto para enumerar os “fracassos” da “governação falhada” de Sócrates, num claro apelo ao voto dos eleitores que, há quatro anos, deram a maioria absoluta ao PS. Se os socialistas vencerem no dia 27, defendeu, a política será dominada “pelos de sempre, sem que melhore a decência”. No caso de terem um Governo minoritário, os socialistas vão ter de enfrentar um BE agigantado: “Temos de ser enormes”, advertiu.

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