Defesa antimíssil: Estados Unidos estão prontos para deixar cair polémico escudo na Europa

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Imagem de um ensaio de um sistema antimíssil na California, em 2002 Reuters

Os Estados Unidos irão abandonar os planos de expandir o escudo de defesa antimíssil (MDI) para a Europa Central, enfiando de novo na gaveta os planos da anterior Administração, de George W. Bush, que enfureceu a Rússia ao ponto de emergirem do Kremlin ameaças de apontar mísseis à Europa.

O recuo da Casa Branca nesta matéria – e que foi revelado hoje na edição online do diário norte-americano “Wall Street Journal” – é o passo recomendado pela equipa nomeada pelo Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para averiguar da necessidade e eficiência técnica daquele projecto. Os peritos, cuja análise deverá ser entregue a Obama já na próxima semana, concluíram que “o programa de mísseis de longo alcance do Irão não progrediu tão rapidamente como fora anteriormente previsto” – explicava o jornal – esvaziando desta forma as justificações apresentadas pelos Estados Unidos para colocar um radar de detecção na República Checa e dez mísseis interceptores na Polónia.

A muito usada “ameaça” iraniana – a que Bush lançou mão para fazer avançar a aceitação dos planos de expansão do MDI junto dos aliados da NATO e também dos países membros da União Europeia – deixa, assim, de ser relevante tanto para os Estados Unidos como para as mais importantes capitais europeias, sublinhará o relatório, de acordo com responsáveis desta e da anterior Administração ouvidos pelo "WSJ".

O Pentágono escusou-se para já a qualquer confirmação oficial; não foi igualmente negada nem a iminência da divulgação do relatório, tão pouco as conclusões e recomendações que o jornal norte-americano sustenta estarem nele contidas. É esperada hoje à tarde uma conferência de imprensa do secretário norte-americano da Defesa, Robert Gates – homem que passou da Casa Branca de Bush para a de Obama –, e do chefe de Estado-maior adjunto, James Cartwright, mas não é conhecido ainda o assunto que será ali abordado.

De Moscovo as primeiras reacções foram de cautela – à espera de “confirmações” – mas já sinalizando o grande regozijo com que o Kremlin acolhe a possibilidade de os Estados Unidos recuarem na expansão do MDI para junto das suas fronteiras. A Rússia vem insistindo, desde o primeiro momento, que considera a colocação de partes do escudo de defesa antimíssil norte-americano na Europa Central uma “ameaça concreta” à sua segurança nacional. Em resposta, foi ameaçado apontar mísseis à Europa e até mobilizar uma das mais avançadas esquadras de mísseis russos de curto alcance Iskander para Kaliningrado, o enclave russo fronteiriço à Polónia e Lituânia.

Polónia nervosa e checos à espera

A revelação já agitou as águas do nervosismo para os lados de Varsóvia, onde era feita uma forte aposta na expansão do MDI. Um responsável do Governo polaco – profundamente esperançado numa intensa cooperação militar com os norte-americanos, até para se extrair ainda mais da esfera de influência histórica de Moscovo – disse que não iria “especular” sobre eventuais decisões da Administração de Obama sobre o escudo. Mas não deixou de sublinhar que é esperado que Washington “cumpra aquilo a que se comprometeu”, numa alusão ao acordo assinado em 2008, ainda na era Bush, para a colocação até 2013 dos mísseis balísticos de longo alcance em território polaco.


Na República Checa a expectativa não é menor – mesmo se não tão forte a apreensão – sendo também em Praga esperada alguma sinalização mais clara ainda até ao final do dia. Obama conversou telefonicamente com o primeiro-ministro checo, Jan Fischer, na noite de ontem para hoje justamente sobre o MDI, revelou porta-voz do chefe de Governo, citado pela agência noticiosa francesa AFP. E uma delegação liderada pela secretária de Estado adjunta responsável pelo controlo de armamento e segurança internacional, Ellen Tauscher, deverá chegar ao fim da tarde de hoje a Praga.

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