Torne-se perito

Cinco mortos e três feridos em derrocada de arriba em Albufeira

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Escavadora em actividade, ontem à tarde, no local da derrocada VASCO CÉLIO

Tragédia na praia Maria Luísa ocorreu às 11h30 e operação de buscas foi dada por terminada às 22h. Avisos de perigo não evitaram as mortes

a A sombra terá traído os banhistas que ignoraram o aviso "arribas instáveis", na Praia Maria Luísa, em Albufeira. A primeira das cinco vítimas mortais a ser resgatada dos escombros, neste caso já sem vida, foi um homem de 60 anos. "Estava a ler o jornal quando foi apanhado pela derrocada", contou Helena Martins, uma veraneante que saía da água quando se deu a tragédia. "Ainda tenho as pernas a tremer", declarou ao PÚBLICO passadas mais de quatro horas depois do incidente, registado pouco antes das 11h30. Pelo menos cinco pessoas morreram e três ficaram feridas na derrocada de uma arriba no centro da praia Maria Luísa. Todos eles portugueses, segundo o responsável pelas operações de socorro, o comandante da capitania local Marques Pereira, que deu as buscas por terminadas às 22h e esperava não encontrar mais vítimas. "Toda a área onde caíram os desprendimentos da arriba foi batida e não deve haver mais vítimas no local", referiu. A área onde ocorreu a derrocada irá ficar interdita até amanhã, altura em que será demolida a parte da arriba que não caiu.
O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) informou que, além do homem de 60 anos, morreu uma mulher de 38 anos que ainda entrou com vida no Hospital de Faro e mais três mulheres que ficaram soterradas. Duas tinham menos de 25 anos e a outra estaria na casa dos 50 anos.
Os três feridos são dois adultos e uma jovem. Um deles, um homem de 35 anos, inicialmente dado como ferido ligeiro, acabou por ser operado a um membro inferior no Hospital de Faro. As outras duas vítimas tinham ferimentos ligeiros: uma mulher de 33 anos que foi atendida no Serviço Urgência Básica de Albufeira e uma jovem de 14 anos com um braço partido, transportada para o Hospital de Faro.
O nadador-salvador, Tiago Pargana, lembra que muitos ignoram as suas chamadas de atenção. "Quando falamos do perigo das arribas, respondem: vocês querem é alugar toldos. Além ao fundo, [lado poente] ainda está o monte de pedras que caíram no principio da Primavera", exemplifica.
Ainda em choque, Helena Martins relata o acidente. "A queda deu-se em dois tempos", conta. "O deslizamento deu-se para o lado do mar, se fosse em sentido oposto, era eu que tinha morrido, porque tinha lá deixado a toalha". Ficou em estado de choque: "Quando ouvi o estardalhaço, desatei a gritar". Os meios de socorro, acrescenta, tiveram resposta imediata.
O primeiro a chegar, cerca das 11h40, foi Tiago Pargana: "Quando tirei a rapariga [de 38 anos] parecia um guardanapo". O assessor de imprensa do Hospital de Faro, Márcio Fernandes, confirmou a entrada da mulher, com prognostico reservado, antes das 14h. Recebida na sala de emergência a vítima, acabaria por falecer a meio da tarde.
Cavaco e Sócrates no local
Um dos sobreviventes, um homem de 35 anos, conta o nadador-salvador, "foi um sortudo: salvou-se porque ficou com a cabeça entre dois pedregulhos". De resto, acrescenta, foi ele que disse que haveria outras pessoas debaixo das rochas. Bombeiros, Autoridade Marítima, Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, GNR, Protecção Civil mobilizaram-se para o resgate.
Com a maré a subir, ao princípio da tarde, os trabalhos foram suspensos, porque a água já atingia a base da falésia e as máquinas retroescavadoras não podiam avançar.
O Presidente da Republica, Cavaco Silva, a passar férias também em Albufeira, deslocou-se ao local logo que teve conhecimento da tragédia, mas saiu antes da avalanche de jornalistas ter chegado à Maria Luísa. O presidente da Câmara de Albufeira, Desidério Silva, comentando o acidente, recordou que a gestão da zona compete à Administração da Região Hidrográfica (ARH) do Algarve e à capitania. "Nas praias, infelizmente, a única intervenção directa que temos é ter aqui pessoas, todas as noites, para fazer a limpeza", afirmou.
O primeiro-ministro, José Sócrates, acompanhado do Ministro da Administração Interna e do do Ambiente deslocaram-se à praia Maria Luísa, a meio da tarde. Sócrates declarou-se "consternado" com o sucedido.
Os proprietários das vivendas, construídas sobre as arribas, entre a praia Maria Luísa e a dos Olhos d' Água (que não gostaram de ver os relvados dos jardins a serem pisados por forasteiros) aproveitaram a ocasião para atribuir ao novo percurso pedonal, construído sobre as falésias, a culpa pela derrocada.
João Bruno, encarregado da gestão das primeiras moradias, aproveitou a ocasião para reafirmar. "A derrocada na falésia deveu-se a esta obra da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve". Outros moradores contestavam a tese e lembravam outros motivos de erosão. É o caso de Adelma Pargana: "A senhora, proprietária das vivendas, desce de helicóptero no relvado do jardim, que chega até à crista da falésia", denunciou. João Bruno queixava-se também da intervenção de betão, feita para permitir o acesso directo de algumas casas à praia, através de uma escada. Um dos beneficiados é presidente da Agência Portuguesa para o Investimento, Basílio Horta.

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