Presidência da República teme estar a ser vigiada

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Cavaco e Sócrates estão mais longe da "cooperação institucional" Daniel Rocha

O clima psicológico que se vive no Palácio de Belém é de consternação e a dúvida que se instalou foi a de saber se os serviços da Presidência da República estão sob escuta e se os assessores de Cavaco Silva estão a ser vigiados, confessou ao PÚBLICO um membro da Casa Civil do Presidente.

Este clima instalou-se depois de a perplexidade ter atingido aqueles que trabalham com o Presidente da República, quando tomaram conhecimento das declarações, ao PÚBLICO, dos dirigentes do PS José Junqueiro e Vitalino Canas denunciando que havia assessores de Cavaco Silva a participarem na elaboração do programa do PSD.

O mesmo membro da Casa Civil da Presidência da República questiona-se sobre estas declarações e afirma: "Como é que os dirigentes do PS sabem o que fazem ou não fazem os assessores do Presidente? Será que estão a ser observados, vigiados? Estamos sob escuta ou há alguém na Presidência a passar informações? Será que Belém está sob vigilância?".

No sábado, o PÚBLICO noticiava acusações feitas por José Junqueiro e Vitalino Canas na sequência da crise entre Belém e São Bento por causa da não recondução pelo Governo do neurologista João Lobo Antunes no Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida.

Ao PÚBLICO, Junqueiro considerava que, "se isso se confirmar, se Cavaco Silva autorizar, há uma clara interferência na campanha eleitoral", acrescentando ainda que "a Casa Civil do Presidente da República não pode ser parte" da estratégia de um partido. Então, Junqueiro criticou o facto de o semanário Sol publicar notícias atribuídas a fontes da Presidência e considerou que essas notícias tinham como objectivo "abafar a polémica das listas de deputados do PSD". Vitalino Canas apontava também o dedo a fugas de informação e desafiava o próprio Cavaco Silva: "Poderia ter havido da parte do Presidente da República alguma referência que pusesse termo à especulação".

Política e amizade

Ora estas acusações não foram desmentidas nem desautorizadas pelo coordenador de campanha do PS e ministro do Trabalho e da Segurança Social, José Vieira da Silva, quando sábado foi com elas confrontado pelos jornalistas, nem por ninguém da direcção socialista. "Não conheço essas declarações", apenas disse Vieira da Silva. E a consternação instalou-se em Belém.


Este membro da Casa Civil do Presidente questiona o facto de dirigentes do PS afirmarem que houve assessores de Belém a reunir e a contribuir para o programa do PSD, lembrando que a vida privada de cada um só a si diz respeito. Admite mesmo que haja assessores de Cavaco que sejam amigos e privem com dirigentes do PSD, mas lembra que isso não é passível de ser politicamente usado.

Criticando o facto de terem sido feitas acusações sem que fossem apresentadas provas e dito claramente do que se estava a falar, o membro da Casa Civil ouvido pelo PÚBLICO pergunta: "Posso almoçar com uma ou outra pessoa e isso significa o quê? Não posso conviver e estar com pessoas das minhas relações, com amizades antigas?".

Insistindo na ideia de que acusações deste tipo feitas por dirigentes do PS pressupõem que esses dirigentes do PS tiveram informações sobre o que fazem as pessoas da Presidência, o membro da Casa Civil precisa que "uma coisa é encontros em actos públicos, em que as pessoas são filmadas, outra coisa são encontros com amigos". E sublinha: "Como sabem? Será que os assessores do Presidente estão sob vigilância do Governo ou do PS? Como têm acesso a essas informações?". Para rematar: "Será que em Belém passámos à condição de vigiados?".

PSD desmente contactos

O vice-presidente do PSD, José Pedro Aguiar Branco, desmentiu categoricamente, em declarações ao PÚBLICO, que tenha havido qualquer colaboração de assessores do Presidente da República na elaboração do programa e da estratégia eleitoral do seu partido.


"Isso não é verdade. Tanto quanto sei - e creio que sobre este assunto sei tudo -, não há contributo de ninguém da Presidência", declarou Aguiar Branco, lembrando ao PÚBLICO que "o programa do PSD foi feito com base nas contribuições do Fórum Portugal de Verdade, com base nos contributos do Instituto Sá Carneiro e do Gabinete de Estudos do PSD, tudo organismos que não têm assessores do PSD".

Aguiar Branco precisou que "há um redactor do programa, Paulo Mota Pinto, que sistematizou o texto com base nos contributos obtidos e que foram aprovados pela Comissão Permanente". O vice-presidente do PSD sublinhou que as ideias para o programa foram apresentadas à Comissão Permanente por si, por Sofia Galvão e por Paulo Mota Pinto, e depois foram aprovadas, sob a forma de súmula, pela Comissão Política. E conclui: "Que eu saiba, nenhum de nós - nem eu, nem a Sofia Galvão, nem o Paulo Mota Pinto - falou com nenhum assessor do Presidente. Falo-lhe com a consciência de que estou a dizer a verdade".

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