China desiste de software de controlo da Internet em todos os computadores

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Uma imagem do Barragem Verde, com o aspecto infantil que os chineses frequentemente usam neste tipo de aplicações

Numa atitude pouco habitual, a China desistiu de exigir aos fabricantes de computador que pré-instalassem em todas as máquinas software para impedir o acesso a certos sites.

Em Maio, o ministro chinês responsável pelas tecnologias de informação, Li Yizhong, anunciara que todos os computadores vendidos no país deveriam ter instalada uma aplicação (cujo nome chinês pode ser traduzido para algo como Barragem Verde - Escolta da Juventude) que impediria o acesso dos utilizadores a uma lista de sites definida pelas autoridades chinesas – e estas poderiam actualizar a lista a qualquer momento.

O objectivo oficial era impedir a visualização de pornografia. Mas desde logo surgiu a preocupação de que Pequim usaria o sistema para bloquear o acesso a todo o tipo de sites que considerasse incómodos.

A China tem fortes mecanismos de ciber-censura. Para além da pornografia, as autoridades tentam impedir o acesso a conteúdos politicamente sensíveis, como os que dizem respeito ao Tibete, a Taywan ou ao massacre de Tiananmen.

A Barragem Verde provocou o protesto de muitos fabricantes de computadores, que temiam que a inclusão do software afastasse clientes, e de vários utilizadores chineses – alguns queixaram-se em fóruns na Internet e blogues. Os EUA chegaram a avisar a China de que a decisão poderia infringir as regras da Organização Mundial do Comércio.

A 30 de Junho, véspera do dia em que a medida entraria em vigor, o ministro Li Yizhong resolveu suspender temporariamente a directiva, argumentando que os fabricantes precisavam de mais tempo para fazer a pré-instalação da aplicação.

Ontem, o ministério decidiu uma nova suspensão, que parece ter carácter permanente. A Acer, ASUS, Lenovo e Sony, contudo, já desde Julho equipam os respectivos computadores com o software.

Ainda assim, o Barragem Verde será de instalação obrigatória em computadores públicos (nas escolas, por exemplo) e nos ciber-cafés, passando a ser mais uma peça no já complexo sistema de censura da Internet na China.

Conhecida como Grande Cibermuralha da China, a infra-estrutura tecnológica de Pequim permite bloquear o acesso a sites seleccionados e detectar em e-mails ou fóruns online palavras e expressões que indiciem discussões sobre temas reprovados pelas autoridades.

Várias multinacionais de tecnologia – incluíndo Google, Yahoo e Microsoft – integraram mecanismos de censura nos seus serviços, condição imposta por Pequim para que possam operar no mercado que é já o maior do mundo em termos de número de cibernautas.

Apesar de os números oficias já terem colocado a China à frente dos EUA em termos de número de utilizadores da Internet, o acesso ao computador ainda está vedado, por questões económicas, a boa parte da população do país.

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