O disco mais antigo da colecção de Bruce Bastin remonta a 1904, embora se teorize que as primeiras gravações de fado em Portugal remontam a 1900. A valiosa colecção de fado de Bastin nasce entre as décadas de 1970 e 80, quando o coleccionador se interessa por este género musical português e, depois, quando um investigador seu amigo visitou os arquivos da Valentim de Carvalho. Daí começa a procura de mais de mais discos. Do Porto ao Brasil, reuniu um acervo hoje considerado essencial para melhor perceber a história da gravação género musical através de registos da Grammophone, da HMV, Columbia, Homokord e Victor – a meio das negociações com Bastin foi revelado que a então Casa do Fado (actual Museu do Fado) possuía apenas 50 discos no seu arquivo.

Entra em cena o musicólogo e editor José Moças, que conheceu Bastin (que possui milhares de registos de vários géneros musicais, dos blues ao ragtime) em 1992 em Londres e encetou as negociações para que os registos fonográficos de fado que possui ficassem em Portugal. Em 2002 vem a público a existência da colecção e os sucessivos governos portugueses foram negociando a sua vinda para Portugal.
Da colecção fazem parte títulos como "Fado Robles" (1904), de Luís Petroline, "Fado do Porto" (1904) de Manassés de Lacerda ou "Fado Rey Colaço" (1908) de Tomaz Ribeiro, entre muitos outros nomes populares mas cujos registos fonográficos não se sabia sequer se existiam. Até ao surgimento da colecção Bastin. J.A.C.

Espólio do fado comprado por 910 mil euros pelo Estado e Câmara de Lisboa

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Bruce Bastin começou a colecção entre as décadas de 1970 e 80 Nuno Ferreira Santos/PÚBLICO

O espólio do fado, como ficou conhecida a colecção de cerca de oito mil registos fonográficos do britânico Bruce Bastin, ficou mais barato ao Estado e à Câmara de Lisboa: o acordo final permitiu a compra dos discos de 78 rotações por 910 mil euros, menos cem mil do que os 1,1 milhões de euros contratualizados em 2007 pela então ministra da Cultura Isabel Pires de Lima. E um novo arquivo sonoro irá unir o Ministério da Cultura e a EGEAC em parceria.

Cinco ministros da Cultura e cerca de oito anos depois de ter vindo a público a existência deste espólio, a transacção da última tranche da colecção conclui-se no dia 21, com a celebração final do acordo entre o coleccionador, o Ministério da Cultura e a EGEAC/Câmara de Lisboa. Nessa altura, de acordo com Lucinda Lopes, vogal da administração da EGEAC, serão entregues os três mil registos em falta (que incluem discos portugueses adquiridos por Bastin no Brasil), tendo os primeiros cinco mil discos de 78 rotações sido entregues ao Museu do Fado no final de Janeiro de 2008.

Mas em Maio de 2008, a comissão designada pelo Estado para avaliar o acervo considerou que este tinha sido sobreavaliado, o que levou a uma renegociação. Em Dezembro, o ministro da Cultura ainda tinha dúvidas sobre “a quantidade e a qualidade” do acervo - se seriam apenas discos ou também gravações secundárias, sem os originais.

Agora, Manuel Bairrão Oleiro, director do Instituto de Museus e Conservação (ao qual a colecção ficará afecta), explicou ao PÚBLICO que os registos que agora chegarão “ficarão no Museu do Fado para inventariação e catalogação”, cabendo à tutela e à EGEAC decidir o seu destino final. Lucinda Lopes revelou ao PÚBLICO que a EGEAC e o Ministério da Cultura vão constituir um Arquivo Sonoro - que o Governo chegou a indicar como destino para o espólio do fado - para receber registos de privados e de organismos públicos. O musicólogo Rui Vieira Nery sublinha que o Estado deve ser o gestor e o garante inequívoco da “preservação de um património imaterial da cultura portuguesa”, assumindo “essa responsabilidade no essencial”,

O coleccionador chegou a pedir 1,249 milhões pelo acervo, que inclui registos até então desconhecidos ou dados como perdidos que remontam a 1904. Vieira Nery, que analisou a listagem deste “fundo muito importante” que urge “reintegrar no património português”, congratulou-se por saber que o acordo está ultimado. Quanto ao preço, “quanto mais vantajoso para o Estado português, melhor para todos nós”, disse. Os custos serão divididos pela autarquia e pela tutela - há ainda um mecenas não identificado.

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