Sudoeste, um festival com vários festivais lá dentro

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Buraka Som Sistema Nuno Ferreira Santos/PÚBLICO

Este ano, o festival da Zambujeira do Mar reforçou a aposta na música portuguesa, misturando kuduro com fado, e convidou para o Alentejo os ressuscitados Faith No More e a endiabrada Lily Allen. Há festa para todos os gostos na Herdade da Casa Branca

Em 2008, os membros da Música no Coração (MnC) ficaram espantados com a reacção do povo do Sudoeste ao concerto de David Fonseca. "Pensámos: como é possível não termos dado mais destaque ao David Fonseca?", confessa ao P2 Joana Godinho, responsável pela contratação de artistas da MnC.
A ideia ficou e, chegados a 2009, o Festival Sudoeste, que começa hoje com o popular DJ David Guetta como cabeça de cartaz, reforça a aposta na música portuguesa. Deolinda, Buraka Som Sistema e Mariza são alguns dos nomes com mais destaque num cartaz que junta quase 90 propostas - o Sudoeste gosta de ser o maior em tudo. Os Deolinda, por exemplo, regressam, sexta-feira, à Zambujeira do Mar com um estatuto diferente daquele que tinham em 2008 (Canção ao Lado, o disco de estreia, já vendeu mais de 40 mil exemplares) e com um "espectáculo único", "muito mais grandioso" do que o habitual no grupo, com bailarinas, uma miniorquestra filarmónica e elementos cénicos inéditos em torno do seu imaginário popular e atrevido.

Os concertos de artistas portugueses originam "momentos de interacção" difíceis de igualar, "sobretudo quando fazem espectáculos atípicos", nota Joana Godinho. E o Sudoeste, que no ano passado recebeu uma média de 40 mil pessoas por noite (a MnC espera aumentar o número este ano), é especialmente dado a comunhões colectivas - aconteceu com Os Humanos em 2005 ("foi incrível", recorda) e com a "loucura" dos Buraka em 2006.
O Sudoeste é o maior festival de Verão do país (excluindo os festivais urbanos) e assume essa "responsabilidade". "Gosto de sentir que as pessoas gostam muito de lá ir e querem voltar", conta a responsável da MnC.

Este ano, o dispositivo de quatro palcos mantém-se quase intacto: há o palco TMN, por onde passam os maiores nomes (cada noite encerra com um nome forte da cena electrónica); o palco Planeta Sudoeste, destinado a artistas menos conhecidos, prazeres de uma imensa minoria, como os Low, e revelações, como Ebony Bones; o Positive Vibes, que, previsivelmente, se dedica ao reggae e arredores; e, finalmente, o Groovebox, com música de dança das 21h00 até às primeiras horas da manhã. Este último, muito procurado, mudou de nome (chamava-se Kubic) e tem mais espaço este ano.

Apesar da oferta diversificada, no Sudoeste, para muitos festivaleiros, a música é apenas um pretexto. E esses têm muito que fazer durante os cinco dias de festival, entre idas à praia da Zambujeira do Mar (há camionetas gratuitas para transportar quem quiser até lá) e voltas numa roda gigante patrocinada por uma marca de gelados. Há quem já esteja no Sudoeste há quase uma semana, entretido pelo campismo, por alguma animação nocturna preparada pela organização e, claro, pela praia. Quiseram "marcar lugar, ficar próximo das sombras e do canal [de água que serve a zona do campismo]", refere Godinho. Afinal de contas, estas são "umas férias baratas" - os bilhetes custam 40 euros (um dia) e 80 euros (passe para todos os dias, com direito a campismo).

O efeito Patton

São, portanto, vários "festivais dentro do festival". "Há quem goste de reggae e fique pelo palco reggae. Há quem esteja apenas na tenda de música electrónica", exemplifica. E há quem venha, não veja um único concerto e se fique pelas outras atracções. Em suma, "cada um pode fazer o seu Sudoeste".
Peça-se a um fã de rock para olhar para o cartaz e dificilmente ele não dirá, em voz alta, "Faith No More". A importância da banda de Mike Patton é visível na procura dos bilhetes de sábado, noite em que encabeçam o cartaz, "um bocadinho maior" do que para as restantes noites. O "efeito Patton" está, apesar de tudo, diluído: "Este é um festival em que a larga maioria das pessoas fica a acampar". Joana Godinho, que sublinha a boa forma de Mike Patton e cúmplices, está à espera de ver um público mais velho nessa noite. Mas será a excepção que confirma a regra, já que a maioria da audiência tem entre os 16 e os 25 anos (um cenário muito diferente, por exemplo, de Paredes de Coura, que se tem afirmado como um festival para jovens adultos).

Em ano de crise económica, o Sudoeste não se parece ressentir. A aposta em grupos portugueses não se deve a isso, garante Joana Godinho, e, apesar dos investimentos serem menos avultados, o festival mantém patrocinadores (a relação com a TMN, o principal, já leva cinco anos) e até conseguiu novos. Muitos deles apostam em acções ecologicamente responsáveis, desde a partilha de carros no transporte para a Herdade da Casa Branca até à plantação de pinheiros nas áreas consumidas pelos incêndios de Verão. Haverá ainda infra-estruturas para a reciclagem de resíduos produzidos no local e serão colocados 15 "pilhões" na zona do campismo.

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