Torne-se perito

Quase 40 por cento dos portugueses a favor de uma federação ibérica de Estados

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Um terço dos espanhóis defende o mesmo, revela o Barómetro de Opinião Hispano-Luso 2009, da Universidade de Salamanca

a Quando José Saramago apontou a inevitabilidade de uma federação ibérica entre Portugal e Espanha, meio país reagiu escandalizado. E o próprio Presidente da República, Cavaco Silva, correu a classificar a ideia como "absurda". Aparentemente, não o é - pelo menos para 39,9 por cento dos portugueses e para 30,3 dos espanhóis ouvidos no Barómetro de Opinião Hispano-Luso 2009. Perante a pergunta sobre se estariam de acordo que Portugal e Espanha formassem uma federação de Estados, 29,1 por cento dos espanhóis mostraram-se indiferentes. Do lado português, a indiferença baixou para 17,7 por cento. Frontalmente contra, estiveram 30 por cento dos espanhóis e 34 por cento dos portugueses.
Mas as respostas maioritárias em ambos os lados da fronteira foram a favor da união ibérica. É um dado que, por si só, rompe com o tópico da desconfiança entre os dois países, segundo Salvador Santiuste, um dos autores da sondagem, feita pela Universidade de Salamanca a partir de uma sondagem telefónica a 876 pessoas, entre Abril e Maio.
"Há uma clara vontade de reforço da cooperação entre os dois países, sobretudo em aspectos como a cooperação policial", sublinhou aquele académico, para quem o mais surpreendente foi que tal vontade coexiste com a "ignorância mútua". Segundo a sondagem, a ignorância é mais destacada do lado de lá. Enquanto 54,2 por cento dos portugueses sabem apontar o nome do presidente do Governo espanhol, apenas 1,2 por cento dos espanhóis conhecem José Sócrates. Do mesmo modo, 53 por cento dos espanhóis afirmaram ter estado ao menos uma vez em Portugal, contra os 84 por cento de portugueses que afirmaram já ter pisado solo espanhol.
O factor Saramago
Não espanta assim que a indiferença perante a hipótese de uma união ibérica seja maior entre os espanhóis. "Entre os portugueses há uma maior polarização, eventualmente porque a sugestão de Saramago os obrigou a tomar posição", admite Salvador ao PÚBLICO. Curiosamente, o nome de José Saramago figura entre os portugueses mais conhecidos do lado de lá da fronteira. À frente do Nobel da Literatura, apenas Luís Figo e Cristiano Ronaldo. Já entre os portugueses, os nomes de Letícia, Juan Carlos e Júlio Iglésias são os mais conhecidos.
"É um conhecimento trivial", qualifica Salvador Santiuste, para quem, "tomado o pulso à situação", a ideia é que "o barómetro possa repetir-se nos próximos anos, para permitir uma leitura da evolução das relações entre Espanha e Portugal". Além do barómetro, "importaria avançar para estudos qualitativos" sobre tópicos específicos, como a melhoria da cooperação policial, judicial e militar (apoiada por 87 por cento dos espanhóis e 85 por cento dos portugueses). Outro dado curioso é que 76,2 por cento dos espanhóis discordam que o português seja língua de estudo obrigatória, enquanto em Portugal 50 por cento crêem que o espanhol deve ser obrigatório e 81 por cento facultativo.

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