O fulgor de Bach e Vivaldi

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No encerramento do Festival da Póvoa de Varzim, Amandine Beyer e o agrupamento Gli Incogniti interpretam alguns dos seus maiores êxitos

O Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim chega hoje ao fim com um concerto que promete ficar na memória, a avaliar pelas excelentes gravações do repertório em programa que a violinista Amandine Beyer e o seu agrupamento Gli Incogniti registaram na Zig-Zag Territoires. Serão interpretados dois Concertos para violino de Bach (reconstruídos a partir das versões dos concertos para cravo BWV 1052 e BWV 1056) e "As Quatro Estações", de Vivaldi.

A enorme popularidade desta última obra tem conduzido por vezes à sua banalização - da música de elevador aos toques de telemóvel, o tema da "Primavera" pode encontrar-se um pouco por todo o lado - mas Amandine Beyer prova-nos no seu registo fonográfico que a conhecida partitura do "padre ruivo" (a alcunha de Vivaldi) ainda pode surpreender. Não é tanto pela ousadia ou pela enfatização de efeitos bizarros da escrita musical (como tem sucedido noutras leituras) que a interpretação impressiona, mas sim pela sonoridade magnífica do grupo (com uma transparência de planos muito nítida), pela inspiração dos fraseados e da sua fluente respiração e pelo pulsar dançante do ritmo. O virtuosismo é sempre entendido em função da retórica musical e de um diálogo permanente com a orquestra no melhor espírito da música de câmara. O resultado é uma imaginativa pintura sonora de forte poder evocativo. A gravação recebeu os principais prémios da crítica e foi também escolhida pelo Ípsilon como um dos melhores CD de 2008.

Amandine Beyer é actualmente considerada uma das mais distintas intérpretes de violino barroco a nível internacional. Nascida em Aix-en-Provence, estudou no Conservatório Nacional Superior de Paris e na Schola Cantorum de Basileia na classe de Chiara Banchini. Tem colaborado com alguns dos mais proeminentes grupos especializados no repertório barroco (Ensemble 415, Le Concert Français, Accademia Montis Regalis, La Fenice, Al Ayre Español, Café Zimmermann) e desenvolve projectos pessoais com o ensemble de câmara L'Assemblée des Honnetes Curieux e com a orquestra Gli Incogniti. Dedica-se também ao ensino, sendo professora no departamento de música antiga da ESMAE (Escola Superior de Artes do Espectáculo do Porto).

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