Vaticano reabilita Oscar Wilde

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Uma das personalidades mais lúcidas do século XIX, escreve o "L'Osservatore Romano"

Provocatório, sim, escandaloso, sem dúvida, mas, segundo o Vaticano, Oscar Wilde foi acima de tudo "uma das personalidades do século XIX que com mais lucidez analisou o mundo moderno nos seus aspectos perturbadores mas também nos seus aspectos mais positivos". A definição é assinada por Andrea Monda, num artigo publicado no "L'Osservatore Romano", o jornal oficial do Vaticano, a propósito da biografia "The Portrait of Oscar Wilde", de Paolo Gulisano.

O Vaticano parece estar decidido a reabilitar Wilde - "um herói católico tão provável como Pôncio Pilatos", ironiza o "Times". O escritor, homossexual, preso devido à sua relação com Lord Alfred Douglas e acusado de "actos imorais", morreu em 1900 convertido ao catolicismo - uma religião que, dizia, destina-se "apenas a santos e a pecadores - para as pessoas respeitáveis a Igreja Anglicana é suficiente".
Andrea Monda vem agora defender que Wilde era, muito mais "do que um esteta e um amante do efémero", "um homem que por trás de uma máscara de amoralidade [se] interrogava sobre o que é justo e o que é errado, o que é verdadeiro e o que é falso".

O texto de Monda não é, no entanto, o primeiro sinal de abertura do Vaticano em relação ao autor de "O Retrato de Dorian Gray". As tentativas de reabilitação, recorda o "Times", começaram há dois anos, quando alguns dos aforismos de Wilde foram incluídos numa colecção de máximas reunidas e publicadas pelo padre Leonardo Sapienza, chefe de protocolo do Vaticano. A escolha mostra que a Santa Sé parece ter-se revisto em afirmações como "consigo resistir a tudo excepto à tentação" ou "a única forma de nos libertarmos de uma tentação é cedermos a ela".

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