Nekrosius vai ser nosso outra vez

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É com ele, e com a sua monumental versão de "O Idiota", de Fiódor Dostoievski, que o TNSJ vai abrir a próxima temporada, dias 11 e 12 de Setembro

Todas as vindas de Eimuntas Nekrosius ao Porto foram acontecimentos - desde a primeira escala no PoNTI, em Dezembro de 1997, o ano em que o encenador lituano deixou a plateia do Teatro Nacional S. João (TNSJ) completamente sob influência com uma montagem prodigiosa de "As Três Irmãs" - e há mais um acontecimento Eimuntas Nekrosius em marcha. É com ele, e com a sua monumental versão de "O Idiota", de Fiódor Dostoievski, que o TNSJ vai abrir a próxima temporada, dias 11 e 12 de Setembro.

Depois de se ter atirado a praticamente todos os monstros da literatura russa (Gogol, Tolstoi, Pushkin, Tchékhov) e a um dos textos fundadores da língua lituana ("Estações", de Kristijonas Donelaitis, que teve antestreia mundial no Porto, em Janeiro de 2003), Nekrosius acaba de chegar a um autor que sempre considerou "perigosíssimo". "Todos temos qualquer coisa da alma e da personalidade do Príncipe Mishkin. A sua condição de idiota é um estado ideal que qualquer um de nós gostaria de atingir", explicou o encenador dias antes das estreia mundial da peça, a 17 de Junho, no Festival Internacional de Villa Adriana, arredores de Roma. Houve espectadores que saíram a meio, notou o "Corriere della Sera", mas a esmagadora maioria da plateia levantou-se no final da peça, às 2h30 da manhã (a versão integral de "Idiotas" dura cinco horas e meia), para uma "standing ovation" de cinco minutos. Continua a não saber fazer espectáculos breves ("Não consigo contar nada em menos de quatro horas. Quanto mais intermitente é a atenção, mais os espectáculos devem ser longos"), e, claro, continua a não saber fazer fazer espectáculos maus.

Tal como os anteriores acontecimentos Nekrosius que o TNSJ mostrou (além de "As Três Irmãs" e de "Estações", houve um "Macbeth" em 1999 e um "Otelo" em 2001), "Idiotas" vive de uma singular desconstrução do texto - reduzido a quatro personagens nucleares - e de uma fortíssima partitura de objectos - um espelho, uma porta, camas de grades - que se transformam numa narrativa autónoma.

Da última vez que esteve no Porto, Nekrosius aceitou mostrar como faz proezas com quase nada a um grupo de encenadores que incluiu o actual director do TNSJ, Nuno Carinhas. "Diz-se que os espectáculos da Meno Fortas são objectos de vanguarda, mas parece que se está a assistir ao fim de qualquer coisa. É como se aquela linguagem viesse do fundo dos tempos", disse ao PÚBLICO no final de uma das sessões de trabalho. Lúcia Sigalho, que também lá estava, resumiu o acontecimento Nekrosius a isto: "Um par de estalos bem assentes na cara". Em Setembro, damos a outra face.

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