O especialista em Estudos Portugueses e coordenador dos novos programas de Português do 1.º, 2.º e 3.º ciclos do ensino básico, Carlos Reis, até elogia a selecção dos textos na prova de Português realizada ontem na 2.ª fase: um poema de Ricardo Reis; uma pergunta que testava o que tinham os alunos aprendido com a leitura do Memorial do Convento, de José Saramago, um excerto da Ética para Um Jovem, de Fernando Savater, uma citação de Dicionário Imperfeito, de Agustina Bessa-Luís.

Contudo, confessa: "Não sou defensor do Memorial do Convento como obra de leitura integral neste nível de ensino [12º ano]. Parece-me uma obra de linguagem demasiado complexa." Não quer dizer, sublinha, que Saramago não devesse fazer parte do programa. Mas outro romance seria mais adequado, acredita. Nos últimos cinco anos, Sttau Monteiro e Fernando Pessoa e os seus heterónimos foram os autores mais vezes escolhidos para o texto principal dos exames do 12.º ano. Marcaram presença cinco vezes, num total de 12 provas analisadas. José Saramago, com o Memorial do Convento, e Camões empatam com duas presenças cada.

Em 2008, os resultados do exame de Português surpreenderam pela negativa. É que enquanto a média nacional do exame de Matemática melhorou, a de Português protagonizou um verdadeiro trambolhão.

Pela primeira vez em 12 anos de exames a média de classificações desta prova baixou para um patamar abaixo dos dez valores. Este ano, os resultados da 1.ª fase melhoraram: a média nacional chegou aos 11,1, numa escala que vai até 20. A média dos alunos internos (aqueles que frequentaram a escola ao longo de todo o ano e que representam a maioria dos que fazem exame) foi 11,7. O número de reprovações, esse, baixou substancialmente: no ano passado, feitas as contas às notas dadas pelos professores ao longo do ano e aos resultados dos exames, a primeira fase das provas de Português acabou com oito por cento de chumbos; este ano quatro por cento dos examinandos reprovaram. O que se passará com quem fez a prova agora, na 2.ª fase? Os resultados desta e de outras provas da 2.ª fase são afixados nas escolas a 30 de Julho. Contudo, quem fizer melhoria de nota nesta fase dos exames e quiser usar a nota obtida na sequência dessa melhoria para efeitos de acesso ao ensino superior só poderá candidatar-se na 2.ª fase do concurso nacional, quando estão em jogo menos lugares nas universidades e nos institutos politécnicos.