Benfica de Jorge Jesus tem assinatura de Saviola, a estrela, e Ramires, o trabalhador

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O Benfica volta a ter um treinador português Carlos Manuel Martins

Em Agosto de 2007, o então treinador do Real Madrid, Bernd Schuster, na disputa do troféu Teresa Herrera, acusou o Belenenses de ter feito um jogo muito defensivo. À frente da equipa do Restelo estava Jorge Jesus, que não se coibiu de responder ao alemão: "Com essa equipa dava-lhe três de avanço, mudava aos cinco e acabava aos dez". O estilo recatado de Quique Flores foi ultrapassado e o Benfica apostou esta época num treinador sem fleuma e com arrojo. É o sexto técnico em sete anos desde que Luís Filipe Vieira chegou à presidência do clube. E será mais um a contar com reforços de peso.

O treinador muda - nunca nenhum ficou para a época seguinte, a não ser Fernando Santos, que saiu logo à primeira jornada -, mas o presidente fica. Luís Filipe Vieira vai para o terceiro mandato, desde que a 1 de Novembro de 2003 assumiu a cadeira mais importante da Luz. Com as eleições inicialmente agendadas para Outubro, o antigo líder do Alverca antecipou o escrutínio para 3 de Julho e, mesmo com a concorrência de Bruno Carvalho nas urnas, não se coibiu de ir reforçando o plantel, num claro sinal de que aposta tudo nesta temporada futebolística.

Há um ano, gastou cerca de 25 milhões de euros em reforços e a equipa não conseguiu melhor que o terceiro lugar, sem quaisquer hipóteses de chegar à Liga dos Campeões. Resta-lhe esta época participar na Liga Europa (nova designação da extinta Taça UEFA), com as consequências financeiras daí decorrentes.

Um revés insuficiente, porém, para travar o investimento no plantel - cerca de 16 milhões, para já. A equipa das estrelas Suazo (de regresso ao Inter), Reyes (de saída), Aimar e Cardozo está a ser retocada com um misto de "artistas" de renome (Saviola, ex-Real Madrid, e Ramires, ex-Cruzeiro) e aprendizes (Patric, ex-São Caetano, e Shaffer, ex-Racing Avellaneda).

Mas será nos ombros dos dois primeiros (nenhum dos quais estará hoje presente na Luz) que pesará o fardo da responsabilidade: o internacional argentino (cinco milhões) vem à procura do protagonismo e dos golos de outros tempos; o médio brasileiro, trabalhador incansável que brilhou na Taça das Confederações, terá de justificar os 7,5 milhões que o Benfica investiu no seu futebol.

Para Jorge Jesus, a "novidade Saviola" poderá significar uma vida extra para Pablo Aimar. O técnico já aflorou a hipótese de montar a equipa à volta do futebol de "El Mago" e a companhia de "El Conejito" na frente de ataque poderá ser um incentivo. Juntos, os dois argentinos formaram uma dupla de respeito nos tempos do River Plate, tendo sido responsáveis por 63 golos nos 155 jogos em que participaram, entre 1998 e 2001.

Um currículo que merece elogios, até do francês Hassan Yebda, que chegou ontem a Lisboa com vontade de "ser campeão". "Saviola é uma excelente contratação, porque é um jogador muito bom", resumiu o médio que foi uma das revelações da época passada na Luz.

Às certezas do plantel, Jorge Jesus juntou algumas dúvidas. Chamou Fábio Coentrão e o romeno Sepsi para o estágio de pré-época, não sendo ainda claro se jogadores como Freddy Adu e Makukula terão a mesma sorte, ou seja, se gozarão de uma oportunidade para convencer o técnico a incluí-los no plantel para 2009-10.

Jesus, o segundo português

Independentemente dos reforços, o Benfica da nova temporada será sempre o Benfica de Jorge Jesus. É sobre ele que recaem grandes expectativas. Depois das apostas nos estrangeiros Camacho, Trapattoni, Koeman e Quique Flores, que renderam um título ao Benfica, Filipe Vieira voltou-se agora para um técnico português. O líder benfiquista apontou lacunas à gestão do espanhol na época passada e disse que se o clube "tivesse tido um treinador português as coisas podiam ter corrido de outra forma".

Parece uma contradição, já que o actual presidente contratou cinco estrangeiros e apenas dois portugueses (a contar com Jesus) nas sete épocas que leva à frente do Benfica. Desta vez, levou até ao fim a novela com o Sp. Braga para resgatar Jorge Jesus, desembolsando 700 mil euros pela sua desvinculação.

"Vim para o Benfica com a certeza e convicção de que vou ser campeão nesta casa. Esta é a minha primeira ideia", disparou o treinador no dia da apresentação oficial no Estádio da Luz, avisando desde logo os jogadores que, com ele, terão de render "o dobro" do que renderam na temporada passada.

Só assim o Benfica poderá aproximar-se do título que lhe escapa desde 2004. Só assim Luís Filipe Vieira conseguirá respirar mais à vontade na direcção. Ele, que vê a oposição avançar a cada ano que passa sem vitórias, conta mais do que ninguém com a experiência de Jorge Jesus, habituado às vicissitudes das equipas pequenas, que procuram um salvador a cada época. E o técnico já o descansou: "Não o vou desiludir".

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