Museu Ibérico de Arte e Arqueologia de Abrantes gera fascínio e críticas

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Torre de 45 metros em pleno centro histórico
foi a principal crítica apontada durante a apresentação
da obra projectada pelo arquitecto Carrilho da Graça

a Abrantes vai acolher dentro de alguns anos uma notável colecção de peças arqueológicas no futuro Museu Ibérico de Arte e Arqueologia (MIAA), um investimento que colocará a cidade na rota dos melhores museus temáticos da Europa. A aposta da autarquia abrantina é arrojada e a fasquia foi elevada com a entrega do projecto ao arquitecto João Luís Carrilho da Graça. O investimento vai ser uma marca do território em pleno centro histórico de Abrantes e pretende ser um estímulo decisivo para a sua reanimação. Mas, apesar do fascínio que apresenta, não está isento de críticas e incertezas. Foi delas que anteontem à noite, em Abrantes, se ouviu na apresentação e debate sobre o MIAA.A enorme altura da torre, que será o ex libris do museu, e a sua localização "provocatória" no alto da encosta de Abrantes, bem como a sua proximidade com o vetusto Convento de São Domingos e a ameaça da torre à própria cerca do convento, foram algumas das críticas apontadas pelos participantes no debate, onde predominavam arquitectos e alguns dos candidatos já anunciados à Câmara de Abrantes.
Outros criticaram a sua localização no centro histórico, mostrando preferência por outros locais com acessos mais facilitados. "É um projecto fantástico, mas para outro sítio da cidade", criticou um participante, enquanto outro técnico referiu que em vez de um diálogo entre o museu e a cidade, era o contrário que acontecia: "Eu só vejo um monólogo - o projecto fala e a cidade ouve!" As primeiras críticas de quantos encheram a Igreja de Santa Maria, no castelo, foram de tal modo corrosivas que o autor do projecto, Carrilho da Graça, acabou por ironizar perguntando se não haveria na sala ninguém que gostasse do projecto.
O rio ibérico
Claro que havia. Os 45 metros de altura da torre onde ficará parte significativa do espólio arqueológico têm um forte impacto visual, mas a sua verticalidade pretende também retratar, como sublinhou um participante, o próprio carácter da fundação "vertical" de Abrantes no alto de um monte e com uma visão de 360 graus à sua volta e ao longo de várias dezenas de quilómetros. A torre está também deliberadamente voltada para o rio Tejo, o que faz sentido: sendo um museu que recolhe peças recolhidas em toda a Península Ibérica, dali contempla o mais ibérico dos rios.
"Os arquitectos fazem projectos a partir das suas convicções e a beleza desta paisagem, em 360 graus à volta de Abrantes, e a extraordinária e intensa originalidade da colecção de peças arqueológicas que serão expostas levou-me a fazer uma ligação entre a paisagem e a torre, construída do interior para o exterior, com diversas janelas e vistas sobre Abrantes", referiu Carrilho da Graça, notando que a exposição das peças ao longo da torre será feita de forma cronológica.
Em relação à proximidade entre a moderna torre a criar e o Convento de São Domingos, instalado já no século XVI, o arquitecto notou que a distância entre ambos foi a máxima possível, procurando que a torre ganhasse independência e o conjunto dos dois se mantivesse integrado numa espécie de unidade. Frisando que não é particular adepto da edificação de torres, Carrilho da Graça notou ainda que foi em Abrantes que lhe ocorreu pela primeira vez a ideia de recorrer a uma torre: "Mas o projecto só correrá bem se tiver apoios, faz-me confusão se não tiver o apoio dos abrantinos."
A colecção
"É estonteante a qualidade e o número de peças espectaculares quer pela sua qualidade estética quer pelo seu valor histórico que constituem a colecção de peças arqueológicas que vão ficar expostas no Museu Ibérico de Abrantes." É nestes termos que Albano Santos, até há poucos anos arquitecto do município e actualmente candidato independente à Câmara de Abrantes, se refere ao espólio do futuro museu abrantino. São cerca de 5000 peças arqueológicas adquiridas sobretudo em leilões em Portugal e no estrangeiro por João Estrada, um abastado e curioso coleccionador de peças de arte ligadas à arqueologia, que construiu um espólio patrimonial de grande valor. Apercebendo-se do enorme potencial das peças na posse da Fundação Ernesto Lourenço Estrada & Filhos, a autarquia ofereceu o espaço do Convento São Domingos para expor o enorme legado artístico, tendo João Estrada aceite de imediato.
"Este sítio era irrecusável e o projecto, ao ser aceite por Carrilho da Graça, ficou com a fasquia muito alta. É uma equipa de projectistas de nível internacional a puxar pela colecção Estrada para cima e, por isso, o futuro Museu Ibérico irá ser decerto uma marca de território que vai pôr Abrantes entre as cidades com museus de dimensão europeia", sublinhou Albano Santos.
Peças desde os períodos neolítico e da idade do ferro, passando pelo romano, paleocristão e bronze médio e final, até às pequenas esculturas de influência orientalizante e islâmica, muito se poderá ver no futuro MIAA, que contará ainda com soluções de climatização, ventilação, iluminação e aproveitamento da luz natural consideradas inovadoras. Entre as dúvidas para a sua concretização foram apresentadas sobretudo as de natureza financeira: o timing do investimento, na actual fase económica do país, e a forma de financiamento das obras.

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