Câmara dos Comuns escolhe o conservador John Bercow para substituir o seu speaker

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Bercow foi eleito com 322 votos a favor Andrew Winning/Reuters

John Bercow foi hoje eleito pelos deputados britânicos o novo speaker da Câmara dos Comuns. Foi a primeira vez em que os deputados escolheram o seu líder por voto secreto, um modo de tentar evitar pressões para a escolha de um certo candidato numa altura em que o Parlamento tenta recuperar do grande escândalo das despesas dos deputados, que levou até à demissão de ministros e secretários de Estado.

Bercow, que tem apenas 46 anos, é um conservador próximo do Labour e cuja vitória, sublinha o diário britânico "The Telegraph", não é uma boa notícia para David Cameron. Foi o candidato que mais falou numa “revolução” no modo como a Câmara dos Comuns opera. Mas o "Guardian" notava a sua “colorida” folha de despesas para, em editorial, apoiar George Young, que já tinha concorrido ao lugar contra o actual speaker, Michael Martin.

Dez concorrentes esperavam substituir Michael Martin, que foi o primeiro speaker do Parlamento britânico a ser afastado na sequência de um escândalo — um evento tão raro que a BBC teve de voltar atrás uns séculos para lembrar decapitações de speakers antes de 1560 e uma expulsão em 1695 do speaker John Trevor, que aceitou um suborno.

Manobras trabalhistas

Mas enquanto a eleição era apresentada como a oportunidade para trazer uma cara nova à Câmara dos Comuns, surgiram notícias de que o Governo estava a tentar manobrar os deputados para que a escolhida fosse a antiga ministra dos Negócios Estrangeiros, Margaret Beckett — que, soube-se entretanto, também apresentou despesas irregulares ao pedir o reembolso de um grande arranjo no seu jardim.

Um deputado trabalhista fez a denúncia à rádio BBC: “Está a haver muitas manobras”, queixou-se o deputado Stephen Pond. Os partidos trabalhista e conservador “estão a promover Margaret Beckett”: “É um exemplo deprimente de como os deputados estão a olhar para si próprios e a ter em conta o seu interesse quando deviam estar a olhar para fora.”

As palavras de Pond levaram a um imediato desmentido pela presidente da Câmara dos Comuns, Harriet Harman. “Não há nenhuma linha do Governo e o Governo não está a apoiar ninguém”, disse Harman.

Beckett acabou entretanto por se retirar no segundo "round" de votação, depois de não chegar a mais de 70 votos contra 179 e 112 de Bercow e Younge — a escolha do speaker é feita numa sucessão de votos, em que o candidato menos votado vai sendo eliminado. Mas vários desistiram entretanto, deixando os dois mais votados, o conservador próximo do Labour John Bercow e o também conservador George Young, que é antigo aluno de Eton (tal como David Cameron), a competir pelo lugar.

Dos dez candidatos, sete eram conservadores, dois trabalhistas e um liberal democrata.

Outro dos problemas para o novo speaker será a sua legitimidade democrática — no máximo no próximo ano haverá eleições e espera-se que o Parlamento seja bastante diferente do actual, se se confirmarem as previsões de uma vitória dos conservadores.

O escândalo das despesas começou quando veio a público que os deputados — que têm direito a uma segunda residência e despesas relacionadas com esta — utilizaram as ajudas para obras de valorização de casas, que depois venderam, ou incluíram ainda contas com itens mais exóticos, como alimentação para animais, tampos de sanita ou papel higiénico.

O speaker tem como funções presidir aos debates na Câmara dos Comuns (decide quem fala, etc.), representa a Câmara dos Comuns perante outros (monarquia, Lordes, etc.) e é ainda responsável pela supervisão das despesas dos deputados.

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