CDS quer impedir sondagens durante campanhas

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O porta-voz do CDS, Mota Soares, diz que as sondagens estão a desvirtuar a democracia Pedro Cunha

Da indignação, o CDS passou aos actos. O partido de Paulo Portas vai apresentar um projecto de lei que impede a divulgação de sondagens durante a campanha eleitoral.

A realização de auditorias às empresas de sondagens pela Entidade Reguladora da Comunicação é outra das medidas previstas na iniciativa legistativa do CDS, que propõe ainda outras melhorias técnicas na elaboração deste tipo de estudos.

"As sondagens estão a desvirtuar o sistema democrático e político em Portugal", afirma Pedro Mota Soares, porta-voz da comissão política do CDS-PP. O deputado salienta que o melhor resultado que as sondagens pré-eleitorais deram ao CDS foi a eleição de um eurodeputado. E sustenta que isso prejudicou o partido.

Entre as sondagens pré-eleitorais (sem contar com os estudos à boca das urnas), divulgadas por cinco empresas, só uma (a da Marktest para a TSF e Diário Económico) apontou para uma vantagem do PSD, embora o PS tenha sido sobreavaliado. E no caso do CDS, foi a Eurosondagem que ficou mais próxima do valor obtido, mas mesmo assim longe do resultado final.

Em geral, os institutos de sondagens contactados pelo PÚBLICO tendem a desvalorizar os desvios, fazendo uma média do erro dos estudos publicados. E fazem notar que é nas eleições europeias que as divergências de números são mais significativas.

Para Rui Oliveira e Costa, da Eurosondagem, a elevada abstenção é a principal responsável pelos desvios e torna-se difícil de ultrapassar tecnicamente. "As pessoas dizem que vão votar e depois não vão. Se houver mecanismos que resolvam, estou disposto a estudar e a aplicar", disse Oliveira e Costa, rejeitando qualquer proposta no sentido de limitar a divulgação de sondagens. "Quanto mais distantes forem feitas as sondagens [do acto eleitoral] pior é", sustentou, preferindo outras soluções como o incentivo ao voto.

Um "retrato do momento"

Mais prudente nas explicações, Pedro Magalhães, do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião (CESOP), da Universidade Católica, reconhece que "há um desvio grande" entre as sondagens e os resultados finais das europeias. Mas sublinha que essas divergências aconteceram noutras sondagens para anteriores europeias, em que um partido foi subestimado e outro sobreavaliado.

Em relação às queixas do CDS, que visaram directamente o CESOP por sondagens que atribuíram dois por cento ao partido, Pedro Magalhães escusou-se a comentar.

O director do centro de sondagens da Católica remete mais esclarecimentos para o seu blogue (margensdeerro.blogspot.com) onde reconhece ser "justo" questionar a falta de credibilidade das empresas do sector.

Para Jorge de Sá, da Aximage, não está em causa a credibilidade das empresas até porque os números avançados "estavam dentro dos intervalos de confiança". E explica a descida do PS nas urnas "com um voto de zanga" dos eleitores decidida nos últimos dias. Também a Marktest, através de uma resposta escrita, põe a tónica no contexto da decisão dos eleitores: as eleições decorreram num "complexo clima de crise económica" e foram marcadas por uma "elevada abstenção".

A tese da abstenção como responsável em parte dos erros das sondagens é também sustentada por António Salvador, director da Intercampus. "Em actos eleitorais anteriores não tem havido desvios tão significativos", afirma. No entanto, sublinha que uma sondagem "não é uma antecipação do resultado final, é um retrato do momento". Pouco convencido com as explicações, Pedro Mota Soares lembra que as sondagens mesmo noutras eleições "enganam-se sempre para baixo".

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