Estar na “nuvem”: cloud computing discutido no Porto
O evento foi organizado pelo Cloudviews.org, um grupo de professores do ISEP e do Instituto Politécnico do Porto (IPP) que promove e discute as aplicações do cloud computing, um sistema em que os ficheiros pessoais dos indivíduos não estão guardados nos seus computadores, mas em máquinas de grandes empresas, acessíveis a partir de qualquer dispositivo ligado à Internet.
Este paradigma, que muitos defendem ser o futuro da Internet, é utilizado diariamente pelos cibernautas em serviços de e-mail, sites de vídeos e de música e nas redes sociais. O Professor Pedro Veiga, da Fundação para a Computação Científica Nacional (FCCN), defendeu na primeira apresentação da conferência que, mais do que uma revolução, este modelo era uma “evolução natural da computação”, possível através do aumento do poder dos processadores e do crescimento da largura de banda ao longo dos anos.
Não foram, no entanto, estas aplicações mais quotidianas o foco principal da conferência. A maioria dos oradores apresentou as vantagens do utility computing, uma vertente do cloud computing onde empresas disponibilizam computadores – localizados em data centres (centros de dados) – para armazenar dados de outras empresas. Representantes de fornecedoras destes serviços, como a Salesforce.com, EMC2 e Citrix, repetiram várias vezes que cerca de três quartos do dinheiro investido pela maioria das companhias em tecnologias de informação são gastos na manutenção do hardware e apenas o restante é aplicado em desenvolvimento. Virgílio Vargas, da IBM, acrescentou ainda que 85% da capacidade de computação é desperdiçada por máquinas que ficam ligadas mesmo quando não são utilizadas.
De acordo com os oradores, com o utility computing estas despesas são reduzidas, pois as infra-estruturas de computação passam a ser partilhadas por várias empresas e a manutenção, protecção e actualização dos sistemas ficam a cargo das empresas que disponibilizam os computadores. Nas máquinas dos clientes deste serviço fica apenas instalado software que cria um “ambiente de trabalho virtual”, através do qual estes podem aceder aos dados e ao software disponíveis nos computadores alugados, sem ser preciso instalar mais nenhuma aplicação.
As empresas asseguraram que os seus clientes não correm o risco de perder os seus dados, pois estes são duplicados em vários computadores diferentes. Em caso de falha de um dos computadores, outro substitui o serviço, sem o utilizador se aperceber.
Windows Azure e Amazon Web ServicesO architect advisor Luís Alves Martins e o most valuable professional da Microsoft Nuno Godinho apresentaram o Windows Azure, o sistema operativo da Microsoft dedicado ao cloud computing, que será lançado no final do ano. Este sistema, cujo preço ainda não foi definido, permitirá aos utilizadores criar aplicações para a web sem instalar nenhum software no computador.
Para Luís Alves Martins este sistema oferece várias vantagens, pois quem pretender criar sites com o Azure não terá de se preocupar com os custos de hardware. O architect advisor deu o exemplo de alguém que compra vários servidores quando assiste a um pico na utilização do seu site, mas depois repara que, durante a maior parte do tempo, esses servidores não têm utilidade. “Em vez de se comprarem servidores que só são utilizados em alturas de maior tráfego, como por exemplo no Natal, o Azure fornece mais ou menos servidores, consoante o número de utilizadores do site”. O cliente paga assim apenas os recursos que utiliza num determinado momento. O responsável explicou ainda que os dados dos utilizadores são armazenados em cinco centros de dados (quatro nos EUA e um na Irlanda), com 20 mil computadores cada. Apesar de falharem em média três computadores de cada data centre por dia, o arquitecto assegura que o risco de perda de dados é “quase nulo”. “Os dados de cada utilizador estão duplicados em três computadores, é muitíssimo pouco provável que falhem os três ao mesmo tempo”.
Esta plataforma de cloud computing será, em vários aspectos, semelhante aos Amazon Web Services, os serviços de cloud computing fornecidos pela famosa loja virtual. Esta plataforma, disponível desde 2006, hospeda sites como o Twitter (microblogging) e o Smugmug (de partilha de fotografias) e as suas funcionalidades também foram apresentadas na conferência pelo “evangelista tecnológico” da Amazon na Europa, Simone Brunozzi.
Os perigos legais do cloud computingTer os ficheiros armazenados na cloud levanta várias questões legais relacionadas com a privacidade e as garantias de segurança dos documentos.
Durante a conferência, a advogada Carla Pinheiro, especialista em leis de propriedade intelectual da Clarke, Modet & Co alertou para os riscos de colocar na “nuvem” informação confidencial, como registos hospitalares ou dados dos clientes de uma determinada empresa.
A advogada apontou também problemas a nível de jurisdição: o facto de os dados estarem espalhados por países diferentes faz com que estejam sujeitos a formas distintas de lidar com os problemas legais que surjam. Para além disso, Carla Pinheiro chamou a atenção para o facto de, em países como os Estados Unidos e o Reino Unido, os documentos poderem ser facilmente acedidos pelos governos, com base nas suas leis antiterrorismo.
Carla Pinheiro terminou a sua apresentação aconselhando os clientes destes serviços a, antes de celebrarem contratos, informarem-se primeiro sobre qual seria a localização geográfica dos seus ficheiros, quem tem acesso a eles, como poderão os dados ser recuperados em casos de desastre e que garantias teriam no caso da falência ou venda da empresa que armazena os dados.
Notícia corrigida às 10h45