A volta de Patxi Andión, o cantor que a PIDE expulsou duas vezes

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Mas o nome do cantor começou a ser conhecido em Portugal logo por ocasião do seu primeiro disco DR/Mundo da Canção

Das duas primeiras vezes que tentou cantar em Portugal, foram pô-lo à fronteira. Mas à terceira, conseguiu. Foi a 24 de Março de 1974, com o Coliseu dos Recreios de Lisboa superlotado, um mês exacto antes do 25 de Abril. Patxi Andión ainda hoje se recorda com nitidez do que aconteceu. Em vésperas da digressão que hoje começa na Figueira da Foz, diz: "Foi uma coisa incrível, na minha vida. As duas primeiras vezes que fui para cantar em Portugal, a PIDE levou-me para a fronteira. Devo ter sido o único cantor a ser expulso de Portugal duas vezes. Então aquela vez era a primeira que eu tinha um concerto grande, em Lisboa. Foi uma noite inesquecível, maravilhosa."

Mas o nome do cantor começou a ser conhecido em Portugal logo por ocasião do seu primeiro disco. De raízes bascas mas nascido em Madrid, a 6 de Outubro de 1947, Patxi Joseba Andión González surgia já em Abril de 1970 na capa do nº 5 da revista Mundo da Canção (é a editora com o mesmo nome que o traz, agora, a Portugal). Em entrevista, dizia: "A ironia é uma forma de despertar a intranquilidade na mente das pessoas." E: "Não sou triste, a minha realidade é a das sombras, das pessoas que não estão nas conversas, das prostitutas, dos cães, dos vagabundos, das crianças."

Hoje, passados quase quarenta anos, diz: "O mundo, para um criador que tem uma preocupação social como eu, é hoje mais complicado. Quando comecei a fazer canções o mundo era muito mais simples, mais esquemático. Mas agora, na aparente riqueza da sociedade de consumo, onde temos mais coisas mas sobretudo coisas materiais, coisas com um valor limitado, temos menos tempo e menos liberdade. Pagamos caro, para ter esses bens materiais. Por isso há hoje menos gente com preocupações sociais."

Ele continua a tê-las. O primeiro disco que gravou, em 1969, teve as duas canções, La Jacinta e Canto, proibidas de passar na rádio em Espanha. Em Portugal, no entanto, apesar da censura, ouvia-se no éter a sua voz rouca dizendo "canto a la madre que me parió." Mas, com o tempo, ao longo de dezena e meia de discos, foi somando êxitos: 20º aniversario (palabras), Una dos y tres, Samaritana, El maestro, Con toda la mar detras, Canela pura. Em 1998 regravou várias com novos arranjos no disco Nunca, nadie. E quer lançar outro, no final de 2009.

Em Portugal, dará a partir da noite de hoje quatro concertos consecutivos: na Figueira da Foz, em Lisboa, no Porto e na Guarda. "O mais importante para mim é cantar aí, porque eu também sou português, sinto esse país como meu", afirma. Com ele estarão António Serrano (harmónicas e melódica), Guillermo McGill (bateria e percussão), Marftin Leyton (contrabaixo e baixo) e Carlos Camarasa (guitarras). "São gente de jazz, como sempre. O concerto é um olhar pelo que tem sido a minha música até hoje, mas não tem canções novas porque há muita gente que leva gravadores e não tardariam a ir para a internet."

Para o novo disco, em fase de gravações, já tem título: Porvenir. "Que quer dizer futuro mas também o que tem que vir, o que está por chegar ("por venir")."

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