Jesualdo, o professor que só triunfou quando chegou ao Dragão, vai agora ser consagrado

A vitória na Madeira
abriu-lhe a porta do título, o terceiro seguido no Porto. Inédito para um treinador português: Artur Jorge venceu três, mas espaçados

a Jesualdo Ferreira não beneficiou do privilégio de crescer tendo o pai como treinador. O sonho de vir a ser jogador de futebol acabou depressa, devido à falta de jeito. Por isso, em 1970, concluiu o curso de Educação Física no ISEF (actual Faculdade de Motricidade Humana), em Lisboa. Tinha 24 anos e sabia que a carreira de treinador era o seu futuro.
Mas Jesualdo precisaria de esperar 37 anos para conseguir o seu primeiro título como treinador, quando assinou o primeiro contrato com o presidente do FC Porto, Pinto da Costa, em 2006. Neste hiato de tempo, foi criando uma imagem de estudioso do futebol.
Depois de cumprir o serviço militar na Marinha, onde chegou a tenente, criou, em 1979, o Gabinete de Metodologia do Treino de Futebol no ISEF. Três anos depois, o homem que trocou Mirandela, a sua terra natal, por Angola, antes de voltar outra vez a Portugal, estava a treinar o Rio Maior, a sua primeira equipa.
Antes, tinha sido professor de Carlos Queiroz e Rui Caçador, fundadores da "escola dos treinadores-professores", que formaram a actual geração (a terceira) de Mourinho, Peseiro, Couceiro e Carvalhal.
O fosso geracional parece não assustar Jesualdo. Pouca coisa parece fazer o actual técnico do FC Porto desistir. Mirandela fez-lhe essa homenagem, com a medalha de ouro da autarquia em Março de 2007: "Homem que vingou a pulso na vida", está escrito no verso.
E assim é a sua vida. Foi substituído duas vezes nos clubes (por Vítor Manuel na Académica; e Chalana no Benfica), substituiu outras três (Augusto Matine, no Estrela; Toni, no Benfica; e A. Conceição, no Braga).
Até chegar ao Dragão, passou por dez clubes e uma selecção (sub-21) - desses, apenas cinco pertenciam à divisão principal. Mas não conquistou nenhum título em 25 anos. Mais de um terço das 147 vitórias na I Liga foram conquistadas no FC Porto (63).
O Verão de 2006 mudou a sua vida. O professor, com 60 anos e sem títulos na algibeira, fez o que treinadores como Artur Jorge, Ivic, Carlos Alberto Silva, Robson, Oliveira, Fernando Santos e Mourinho fizeram no reinado de Pinto da Costa. Sagrou-se campeão. Mas Jesualdo fez mais: está perto de conseguir o que nenhum conseguiu. Vencer três títulos seguidos; Artur Jorge venceu três, mas espaçados (1985, 1986 e 1990). A festa da consagração é no domingo, com o Nacional.
Rafael Wihby Bracalli chegou à Madeira para representar o Nacional há três anos, mas passou metade desse tempo na sombra de Diego Benaglio. Com a saída do suíço para o Wolfsburgo, no início de 2007, o brasileiro assumiu a responsabilidade de substituir o internacional helvético, um guarda-redes que demonstrou qualidade ao serviço dos madeirenses. Hoje, poucos adeptos do Nacional devem sentir saudades de Diego. Apesar de não ser muito alto (1,82m), Bracalli já provou ser um dos melhores guarda-redes a actuar em Portugal. Contra o Benfica nem teve muito trabalho, mas mereceu elogios de Quique Flores pelas três ou quatro intervenções de nível durante a partida. Ao contrário de outros guarda-redes, Bracalli prefere a eficácia ao espectáculo quando é necessário intervir. Essa pode ser uma explicação para que o nome do guarda-redes brasileiro, que hoje faz 29 anos, continue a não aparecer na lista de potenciais reforços dos clubes grandes. D.A.

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