Utentes da Linha de Guimarães são poucos, mas cada vez mais

Menos de dois milhões de pessoas utilizam anualmente a ligação, mas esta é uma das linhas responsáveis pelo crescimento dos urbanos da CP

a O número de passageiros da Linha de Guimarães representa apenas 10 por cento do total de utentes dos quatro eixos urbanos ferroviários centrados no Porto. Por ano, circulam menos de dois milhões de pessoas naquela ligação. O tempo excessivo da viagem é apontado como um dos principais problemas da linha vimaranense.Segundo dados da CP, em termos mensais, o serviço urbano da linha regista uma média 160 mil passageiros. A "cidade-berço" perde assim, claramente, na comparação com o movimento do serviço urbano que liga o Porto a Aveiro, Caíde (Penafiel) e a Braga, vizinha e tradicional rival de Guimarães. Pela linha criada para servir os bracarenses viajam, ainda de acordo com a CP, 450 mil pessoas por mês.
De resto, nenhuma das estações da Linha de Guimarães se encontra entre as 15 mais utilizadas pelos passageiros do Norte. Este grupo, onde se incluem, por exemplo, as estações de Ermesinde, Espinho, Aveiro e Penafiel, representa 75 por cento de todo o movimento de passageiros da rede de comboios urbanos do Porto.
A Linha de Guimarães, que a 14 de Abril comemorou 125 anos, reabriu em 2004, depois de ter beneficiado de obras de electrificação e reconversão do traçado para via larga - mas não dupla. Antes da intervenção, que custou mais de 100 milhões de euros, circulavam mensalmente cerca de 30 mil passageiros naquela ligação. Hoje o número de utilizadores mais do que quintuplicou.
Deste modo, Guimarães representa 32 por cento dos 400 mil novos passageiros por mês que a CP conquistou nos quatro eixos urbanos do Porto, desde a renovação das linhas. Até 2004, a média de passageiros mensais dos quatro serviços urbanos era de 1,1 milhões, sendo agora de 1,5 milhões.
Manuel Tão, professor da Universidade do Algarve e doutorado em Economia dos Transportes, entende que os números de passageiros da Linha de Guimarães são bons face ao panorama geral dos caminhos-de-ferro nacionais. "Os números em termos absolutos são muito significativos", considera o especialista, apontando outras mais-valias trazidas pela renovação da ligação. "Hoje está integrada na rede nacional e pode ter, por exemplo, comboios Intercidades directos a Lisboa", sublinha.
No entanto, o investigador reconhece que seria expectável que o eixo vimaranense valesse mais do que 10 por cento do tráfego dos urbanos do Porto. Manuel Tão admite que Guimarães tenha "uma capacidade de geração de tráfego inferior" à das outras cidades. Mas não tem dúvidas de qual é o principal problema da ligação: "Há algumas reservas perante o serviço relativamente à cadência e velocidade, que ficam aquém do que seria desejável."
Os problemas estruturais da linha decorrem da sua reconversão. Originalmente, a ligação entre Lousado e Guimarães fazia-se por via métrica e, apesar da mudança de bitola, mantiveram-se as curvas e as limitações de velocidade ditadas pelo traçado original. O excesso de curvas impediu, por exemplo, a introdução do serviço Alfa Pendular. As composições chegaram a fazer testes na linha, mas o serviço mostrou ser inviável face às condições do traçado.
Estas limitações tornam o tempo de viagem bastante longo, cerca de uma hora e quinze minutos. A CP diz que é "o tempo de trajecto possível de acordo com as capacidades da infra-estrutura", adiantando que é objectivo da empresa "reduzi-lo, a partir do momento em que estejam reunidas as condições necessárias".
Mas isso só acontecerá em 2013 depois de resolvido o constrangimento na Trofa - com a abertura da variante ferroviária no próximo ano - e estiver concluída a quadruplicação de vias no atravessamento de Ermesinde.
32%
A Linha de Guimarães assegurou 32% dos 400 mil clientes mensais que a CP ganhou nos urbanos do Porto desde 2004

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