Torne-se perito

Menina de etnia cigana raptada, forçada a "casar-se" e a ter relações sexuais com o suposto prometido

a Pediram-lhe que lhes indicasse um estabelecimento. A menina fê-lo, com a naturalidade de quem conhece quem lhe fala. E levaram-na, à força, de Santa Maria da Feira para Montemor-o-Velho. A menina, de 11 anos, foi forçada a "casar-se" com um rapaz de 18. O "casamento cigano" foi consumado. A menor fora há muito retirada aos pais biológicos e adoptada por outra família de etnia cigana residente numa vulgar habitação de Santa Maria da Feira. Só que antes terá sido prometida àquele rapaz. Era Domingo de Páscoa. Sem suspeitar, foi ajudar aquelas pessoas a encontrarem o que buscavam. Ao darem pela falta da filha os pais chamaram a polícia. A investigação conduziu a directoria do Norte da Polícia Judiciária ao acampamento de Montemor-o-Velho. Na quarta-feira, deteve três homens e uma mulher com idades compreendidas entre 17 e 41 anos. Os quatro ficaram em prisão preventivas. Dois tinham antecedentes por crimes contra o património. Um estava evadido (em prisão domiciliária, cortou a pulseira electrónica a 4 de Abril e saiu). E terá sido ele a forçar a menina a "casar-se" e a ter relações sexuais. Os casamentos forçados já são raros entre os ciganos portugueses, diz Bruno Gonçalves, do Centro de Estudos Ciganos. Hoje em dia, os noivos já têm uma palavra a dizer. Se dois jovens querem casarse e uma das famílias não está interessada, eles fogem uns dias para casa de uma "pessoa de honra e de vergonha". Quando regressam, são considerados casados. A idade média de matrimónio também subiu entre os ciganos portugueses, assegura o mediador cultural. "O movimento evangélico tem feito um esforço para ajudar as pessoas a tomarem consciência de que não podem unir crianças com 11, 12, 13, 14 anos", como é tradição.
Os ciganos portugueses não são homogéneos. Há comunidades "mais conservadoras", mais fechadas às influências da cultura da sociedade dominante, que "insistem no casamento precoce", e comunidades mais permeáveis. As raparigas continuam a casar-se muito cedo, mas fazem-no cada vez mais entre os 16 e os 18 e cada vez menos entre os 13 e os 15."O grande receio dos pais é os filhos terem mais do que um parceiro", observa. com S.D.O.

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