Capitão de navio americano permanece refém num salva-vidas com piratas ao largo da Somália

O porta-contentores levava ajuda alimentar da ONU. Sofreu o primeiro acto de pirataria contra os EUA "em centenas de anos", disse o attorney general Eric Holder

A Richard Phillips preparava-se ontem para passar uma segunda noite a bordo de um salva-vidas do navio, refém de quatro piratas e rodeado de navios de guerra, incluindo um destroyer da Marinha dos Estados Unidos. Na véspera, o Maersk Alabama fora capturado a 500 quilómetros da costa da Somália, mas ao fim de quatro horas os tripulantes norte-americanos conseguiram recuperar o controlo do navio. Capturaram um pirata e tiveram-no refém por 12 horas, atado. Mas acabaram por entregá-lo sem chegar a receber em troca o seu capitão.
No salva-vidas ficou então Phillips, que ao que se sabe se oferecera como refém em troca da segurança da sua tripulação, 20 homens norte-americanos como ele. "Era isso que ele faria, é assim que ele é, é essa a sua responsabilidade como capitão", disse à televisão norte-americana ABC Gina Coggio, cunhada de Phillips.
Ontem, Phillips viu o seu navio afastar-se a caminho do Quénia, escoltado pelo USS Bainbridge, um navio lança-mísseis dos EUA. Antes, os tripulantes tentaram o seu melhor para conseguir a sua libertação. "Estamos a tentar oferecer-lhes o que pudermos, comida, mas não está a resultar", dissera à CNN Kenn Quinn.
No Alabama estão 232 contentores com comida enviada pelo Programa Alimentar Mundial da ONU para a Somália e para o Uganda.
Sabe-se que o FBI foi chamado a participar nas negociações e o vice-presidente, Joe Biden, disse que a Administração está a trabalhar "em contra-relógio". Hillary Clinton garantiu que o assunto está a ser seguido "de muito perto".
"A boa notícia é que eles não têm para onde ir", disse ao diário Washington Post Joseph Murphy, instrutor da Academia Marítima de Massachusetts cujo filho, Shane Murphy, está agora no comando do navio que é propriedade de um armador dinamarquês.
"Estamos rodeados de navios de guerra e não temos tempo para falar", disse um dos piratas do salva-vidas à Reuters, que conseguiu ligar para o telefone-satélite dos somalis. "Por favor, rezem por nós", pediu.
Em terra, no porto de Haradheere, bastião pirata, um associado do grupo disse à mesma agência que os piratas querem um resgate. "Claro que o capitão é o nosso escudo", explicou, admitindo que "os amigos estão com medo dos navios de guerra". Mas em Haradheere, assegurou, os piratas estão armados e prontos a defender-se.
O ministro dos Negócios Estrangeiros do governo transitório da Somália, um país sem Estado de facto e em guerra civil há décadas, disse à AP que os piratas "estão a brincar com o fogo" e desta vez se "puseram numa situação em que não podem ganhar".
Pode ser, mas os piratas somalis já provaram ser determinados. Depois de no ano passado terem posto o mundo a falar deles com a captura de um navio-cisterna com 100 milhões de dólares de petróleo a bordo e de um navio com 33 tanques, entre 130 outros ataques, são vigiados por uma missão que inclui todas as grandes potências, dos EUA à China. Mas continuam a atacar e têm agora 18 navios sequestrados e 267 tripulantes reféns.
No salva-vidas ficou Phillips, que ao que se sabe se oferecera como refém em troca da segurança da sua tripulação

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