Torne-se perito

Juíza que absolveu Pinto da Costa deixa crítica implícita a Maria José Morgado

a O Tribunal de Gaia absolveu ontem o presidente do FC Porto, Pinto da Costa, e os restantes dois arguidos envolvidos no chamado "caso do envelope", num processo do Apito Dourado relativo ao jogo Beira-Mar-FC Porto, realizado em 2004. A juíza Catarina Almeida realçou que o testemunho de Carolina Salgado, antiga companheira de Pinto da Costa, não mereceu "qualquer credibilidade" dadas as contradições, incoerências e discrepâncias do depoimento. O Ministério Público vai recorrer da sentença, com base numa directiva do procurador-Geral da República, Pinto Monteiro, que abrange todas as decisões desfavoráveis do Apito Dourado. Pinto da Costa e o co-arguido António Araújo, empresário de futebol, estavam pronunciados pelo crime de corrupção activa desportiva. Ao árbitro Augusto Duarte era imputado o crime de corrupção desportiva na forma passiva. Segundo a sentença, Augusto Duarte e António Araújo visitaram a casa de Pinto da Costa, na Madalena, em Gaia, dois dias antes do jogo Beira-Mar-FC Porto.
Apesar de admitir que o encontro do presidente do FC Porto com o árbitro pode levantar "suspeitas" e revelar-se "imprudente", a juíza realçou que ao tribunal não cabe decidir com base em suposições, mas em certezas, acentuando ainda que não tinha conseguido "ultrapassar a dúvida razoável". A juíza não acolheu a tese da acusação, segundo a qual o presidente dos Dragões terá entregue então um envelope com 2500 euros a Augusto Duarte para este favorecer o FC Porto. A tese bate com as declarações da ex-namorada do líder portista que estiveram na base da reabertura do inquérito, na sequência da publicação do livro Eu, Carolina.
Depois do procurador Carlos Teixeira, o principal titular do inquérito Apito Dourado, ter enviado uma certidão para o caso ser investigado em Gaia, o Ministério Público da comarca acabou por arquivá-lo. A Equipa de Coordenação do Processo Apito Dourado (ECPAD), coordenada pela magistrada Maria José Morgado, decidiu reabrir o caso após a publicação do livro de Carolina Salgado e de ouvir a ex-companheira de Pinto da Costa.
A juíza de instrução deu razão à ECPAD, decidindo levar o processo para julgamento. Mas a juíza Catarina Almeida veio dizer precisamente o contrário, deixando implícito que a reabertura foi desnecessária, como ontem defenderam os advogados dos arguidos. Depois de um relato exaustivo das contradições do depoimento de Carolina Salgado, a magistrada judicial argumenta: "Chegados a este ponto, diremos que, não tendo qualquer outra testemunha presenciado os factos e tendo os arguidos negado a sua prática, regressamos ao ponto de partida que determinou o arquivamento inicial dos autos por parte do Ministério Público junto desta comarca de Vila Nova de Gaia".
Contactada pelo PÚBLICO, a procuradora-geral adjunta Maria José Morgado disse não comentar decisões judiciais.

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