Diz-se Altermodernidade.
Mas o que é, então, o artista altermoderno? Na trienal da Tate incluem-se nomes como Franz Ackermann, Darren Almond, Charles Avery, Peter Coffin, Tacita Dean, Mike Nelson, David Noonan, Olivia Plender, Simon Starling e Bob e Roberta Smith. Mas Bourriaud vê o mesmo tipo de questões noutras áreas de criação. Por exemplo, na música, em nomes como Mirwais ou Beirut, ou, na literatura, em autores como Sebald ou Vila-Matas. Sobre Sebald, diz isto: "A sua escrita, a viajar entre 'signos', pontuada por fotografias a preto e branco, parece-me emblemática de uma mutação na nossa percepção do espaço e do tempo, [uma percepção na qual] a história e a geografia operam uma fertilização cruzada, a traçar percursos e a estabelecer redes de comunicação." "Networks", portanto -deslocamento e fragmentação, heterogeneidade e heterocronia, ou seja, o cruzamento de signos que vêm não só de múltiplas registos e tradições culturais, mas também de múltiplos tempos: "Hoje uma obra de arte já não pode ser reduzida ao presente de um objecto no aqui e agora; antes, consiste numa rede significativa cujas interrelações o artista elabora, e cuja progressão no tempo e no espaço ele ou ela controla: um circuito, de facto", diz Bourriaud. Acrescentando: "Já não há raízes culturais para suster formas, nenhuma base cultural exacta para servir de vedação às variações, nenhum núcleo, nenhuma fronteira para a linguagem artística.
O artista de hoje, de forma a chegar a pontos precisos, toma como ponto de partida a cultura global e já não o inverso. A linha é mais importante do que os pontos ao longo da sua extensão.
O trabalho tende a tornar-se numa estrutura dinâmica que gera formas antes, durante e depois da sua produção. Estas formas oferecem narrativas, as narrativas da sua própria produção, mas também as da sua distribuição e a viagem mental que a envolve." Em resumo: as trajectórias tornaram-se formas, em si, formas em constante mutação.
A tal ponto que, segundo Bourriaud, acabam por eclipsar as formas fixas através das quais inicialmente se manifesta.
Na trienal, Katie Paterson transmite momentos de silêncio entre a terra e a lua, uma e outra vez, ao mesmo tempo que põe o público ao telefone com o "som" de um glaciar a derreter, Darren Almond propõe uma imagem dos reactores de Chernobyl congelados no tempo no momento anterior ao desastre nuclear, e Joachim Koester percorre os trilhos dos Hashishins no Irão, depois de ter percorrido os caminhos dos passeios diários de Kant por Könisberg e os de Jonathan Harker como contado em "Drácula".
"No nosso presente cabe tudo, não tem que estar o fado de um lado e a Madonna do outro.
Podemos pensá-los e situálos no mesmo espaço: isso é o pensamento [alter] moderno."