Torne-se perito

Caça F-16 força avioneta suspeita de tráfico de droga a aterrar no aeródromo de Castro Marim

O piloto desapareceu e a droga não foi encontrada. Ao fim da tarde de ontem, a avioneta estava abandonada num aeródromo desactivado há muitos anos

a Um caça F-16 da Força Aérea Portuguesa (FAP) forçou ontem de manhã a aterragem de uma avioneta - proveniente do Norte de África e furtada em Espanha - no aeródromo da Praia Verde (Castro Marim), desactivado há vários anos. O alerta foi dado às polícias portuguesas pelas autoridades espanholas, com a indicação de que se tratava de um "transporte de droga". Assim que pôs o pé em terra, o piloto desapareceu e o estupefaciente não foi encontrado. A GNR e a PJ montaram um perímetro de segurança junto do aeródromo, situado no meio de um de sapal, a cerca de dois quilómetros da EN125. Durante o dia, a GNR desenvolveu uma operação de busca, com cães pisteiros, mas ontem, ao final da tarde, o aparelho estava completamente ao abandono. Pouco passava das 17h30, observou o PÚBLICO, aterrou um outro avião ligeiro, no meio do descampado. O piloto saiu, olhou em volta, e retomou o voo.
Um quarto de hora depois chega um soldado da GNR, do posto local, supostamente para substituir o colega que estaria a fazer segurança à aeronave.
O comandante da GNR do Algarve, tenente-coronel Matos Sousa, não sabia nada sobre o assunto. "Peço desculpa, mas não sei do que está a falar - estou de férias", justificou. Uma eventual falha na coordenação da operação terá permitido que o piloto do Cessna, de matrícula espanhola (EC-ERM), com um suposto carregamento de droga a bordo, tivesse desaparecido em circunstâncias ainda por explicar.
O caça da FAP, mesmo na velocidade mínima, terá tido dificuldade em controlar de perto os movimentos do avião ligeiro. Daí ter forçado a aterragem da avioneta. Sobre o facto de não ter sido encontrada droga no interior do avião, a explicação dada à agência Lusa por fontes de PJ e GNR é de que existe a suspeita que o aparelho tenha deixado a droga ainda em território espanhol. No entanto, o PÚBLICO apurou que, dada a forma como o piloto conseguiu fugir, poderia ter, previamente, definido um plano de evasão naquele local, dispondo de apoios em terra para fazer desaparecer o estupefaciente.
A intervenção da FAP na operação deveu-se à informação proveniente do Sistema Integrado de Defesa ao nível europeu. O caça partiu da base aérea de Monte Real para interceptar o aparelho em território português, depois de ter sido seguido pela aviação espanhola. Há suspeitas de que a droga tenha sido carregada em Marrocos. Segundo o PÚBLICO apurou junto de fonte da PJ, "a aeronave entrou no espaço aéreo nacional sem ter previamente pedido autorização para o efeito e sem ter apresentado plano de voo". A PJ terá feito buscas no avião, mas nenhum produto ilícito foi encontrado, referiu a mesma fonte. O aeródromo, de terra batida, no meio do sapal de Castro Marim, está degradado.
A pista, com cerca de 730 metros, bem podia ser um campo de pastagem. As instalações de apoio resumem-se a um barracão de madeira, de portas arrombadas, sem água nem electricidade, e uma casa de banho vandalizada.
150 pistas sem vigilância
Em Portugal existem cerca de 150 pequenas pistas de terra batida que podem ser utilizadas por aviões de pequeno porte e que, praticamente, não possuem qualquer tipo de fiscalização. Uma equipa de investigadores da PJ fez, em 2005, um levantamento destas pistas. Na sequência desse levantamento foi elaborado um relatório, com fotografias incluídas, que acabou por ser remetido ao Instituto Nacional de Aeronáutica Civil. Quase quatro anos decorridos sobre o envio desse relatório não há notícia de quaisquer medidas preventivas. com J.B.A. e M.O.

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