Che - O Argentino

"Che" são dois filmes, "O Argentino" e "Guerrilha" (a segunda parte do díptico de Soderbergh só nos chega para a semana), e é um projecto utópico. Porque a sua personagem é um revolucionário. E porque é um filme - mais de quatro horas de duração juntando as duas partes - a tentar fazer corpo com um actor, Benicio del Toro, que interpreta Che Guevara.


Nem tudo é ganho, haverá razões para expectativas frustradas, mas é o que acontece às utopias. Essa fragilidade assumida é o que cativa. Nada de cenas espectaculares (não há espaço sequer, tem sido comentado desde a estreia no Festival de Cannes, para a conquista de Havana). Nem rendilhados do "plot" para mostrar o homem por trás do mito ou a(s) mulher(es) por trás do homem. São quatro horas em que o filme tenta encontrar o ritmo de um homem, já a caminho de ser mito, nos gestos, nos movimentos, no sotaque a bailar. Uma experiência didáctica e sensual. Ao arriscar fazer corpo com essa personagem, "Che", com artilharia digna de "cinema pobre" (a selva não é selva de épico, mais facilmente seria selva de Rossellini) arrisca passar de uma primeira parte vibrante, a uma segunda, a da queda - Che a tentar activar a revolução latino-americana na floresta da Bolívia -, em que parece também "desaparecer", ter dificuldade em afirmar a sua relevância enquanto gesto - Che filmado de costas, deixando de ser protagonista no plano, como se estivesse prestes a diluir-se na selva. E é magnífico Benicio del Toro.

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