Fidel Castro alega que dois ministros foram afastados por "ambição"

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Fidel garante ter sido consultado sobre esta remodelação Reuters

As “reflexões” de Fidel – afastado do poder desde Julho de 2006 – foram publicadas no site oficial do Governo cubano e contrariam as primeiras análises à maior remodelação de que há memória na história recente do país. Entre os dez ministros estão o chefe da diplomacia, Felipe Perez Roque, e o secretário do Conselho de Ministros, Carlos Lage, dois dos mais jovens e influentes membros da equipa de Fidel Castro que, na década de 1990, liderou as reformas económicas que se seguiram ao colapso da URSS.

O histórico líder cubano não identifica a quem se dirige, mas refere que “dois dos mencionados” pela imprensa foram atraídos pelo “mel do poder”, que atingiram “sem qualquer sacrifício”, o que “lhes despertou ambições que os conduziram a um papel indigno”. “O inimigo externo estava cheio de ilusões sobre eles”, acrescenta, numa alusão clara aos Estados Unidos.

O antigo Presidente vai mais longe e diz não ter sido ele a escolher “a maioria dos que foram agora substituídos”, pelo que são falsos os “rumores” de que os “homens de Fidel” foram “substituídos pelos homens Raúl”, tanto mais que diz ter sido consultado sobre os novos ministros “apesar de nenhuma lei o exigir”.

A afirmação de Fidel não deixa de ser surpreendente, uma vez que Roque, aparentemente um dos visados na missiva, foi secretário pessoal do líder da revolução cubana e era reputado como um dos mais “fidelistas” dentro do actual executivo.

A remodelação foi anunciada numa nota do Conselho de Estado, divulgada segunda-feira à tarde, e as mexidas são justificadas com a necessidade de tornar “mais compacta e funcional” a administração central, tal como havia prometido Raúl Castro, aquando sua tomada de posse. Explica-se, por isso, a fusão de ministérios (Comércio Externo e Investimentos Estrangeiros; Indústria Alimentar com o das Pescas) num Governo que terá ainda assim 27 titulares.

Mas mais do que a procura de eficiência, os analistas viram nestas alterações o afastamento de personalidades ligadas a Fidel e a sua substituição por homens da confiança de Raúl Castro, alguns dos quais oriundos do aparelho militar, que o actual Presidente controla há meio século. É esse o caso do general José Amado Guerra, que substituirá Carlos Lage na direcção do Governo ou do novo ministro da Indústria Siderúrgica, o brigadeiro Salvador Pardo. “Este é mais um sinal de que Raúl Castro está a consolidar o poder” e a “pôr a sua gente” no Governo, numa altura em que se intensificam os rumores sobre a saúde de Fidel, disse José Azel, investigador da Universidade de Miami, citado pela Bloomberg.

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