Torne-se perito

Mais uma rodada de mistério servida por J.J. Abrams

A série joga com o sobrenatural e tenta envolver os espectadores numa busca pela verdade perdida

a Fringe, que hoje se estreia na RTP2, tem a marca de qualidade de J.J. Abrams - Perdidos, novo filme Star Trek, A Vingadora - e a promessa de que é tão misteriosa quanto Perdidos, mas menos exigente para o espectador. E mais cara. E mais longa. O título da Fox americana gira em torno da ciência das franjas, da telepatia ao teletransporte, passando pela manipulação genética ou telecinesia, e de um típico cientista louco que ajuda a também típica investigadora loira com olhar inteligente (mas algo vazio de... actuação) a descodificar fenómenos estranhos conhecidos como O Padrão. Há uma empresa de tecnologia avançada com interesses misteriosos - mais um fantasma corporativo para alimentar teorias da conspiração dos fanboys -, um jovem brilhante convencido a ser o elo de ligação entre o pai cientista e a realidade da investigação.
A série cruza referências que vão de Ficheiros Secretos a Quinta Dimensão, joga com o sobrenatural e tenta envolver os espectadores numa busca pela verdade perdida, dando-lhes pistas virais que os levam ao culto e à expectativa de novos indícios para mistérios paralelos - como a referência, no nono episódio, à Oceanic Airlines, a companhia aérea de Perdidos (ABC). O expediente não é novo - na série Chuck, da NBC, o voo 815 da Oceanic também surge num episódio, associado à referência de que foi "abatido".
Além da mitologia e do criador, outra coisa une Fringe e Perdidos - uma produção de vulto. Em primeiro lugar, a série é mais longa do que o habitual, parte da iniciativa Remote Free TV da Fox (que inclui também Dollhouse, a recém-estreada série de Joss Whedon (Buffy, Firefly)), que ao introduzir menores espaços publicitários permite maior duração dos episódios. É mais uma tentativa dos canais americanos de reverter o sentido do fluxo de espectadores que abandonam a chamada "televisão à hora certa". Têm-no feito ou pela criação de produtos que exigem appointment viewing ou seguimento religioso, como Perdidos, ou com estratégias de estreia simultânea em vários países para dissuadir os mais afoitos nos downloads, ou com estas noites sem comando à distância.
E em termos visuais, Fringe pode não ser filmada numa ilha do Havai, mas o design de produção é evidentemente caro. O episódio piloto, de duas horas (a RTP2 exibe-o em duas partes semanais), é o mais caro de sempre dos EUA, tendo custado cerca de 10 milhões de dólares.
Mas o que Fringe tem de mistério e caça à pista (há bips que interrompem a série, bem como sapos que aparecem ocasionalmente, e uma conspiração que define o arco narrativo principal) e de efeitos visuais cativantes não é, diz alguma crítica, acompanhado por valor de personagens e pathos. A acção é veloz, os acontecimentos são chocantes, mas as figuras que habitam aquele terreno movediço parecem não estar totalmente desenvolvidas. Fringe terá 22 episódios e ainda não foi revelado se terá segunda temporada.

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